quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Sobre o amor e as paixões

De um modo leigo poderíamos aduzir que as funções do corpo são sensoriais, uma vez que todos nossos membros podem ser movidos pelos objetos perceptíveis aos sentidos, sem ajuda da alma. Sim, agora entra em cena a vontade, pois existe até os sistemas nervosos autônomos, que agem até sem nossa vontade, pela ação dos nervos que servem os sentidos. A medicina pode me corrigir! Já as percepções da alma estão nos pensamentos, uns são ações da alma e outros das suas paixões. Determinadas ações da alma acabam na própria alma, sem qualquer conexão material, o amor a Deus, por exemplo. Mas outras terminam no corpo, como exemplo, minha vontade de caminhar que exerce sobre as pernas e começo a andar.
Também, as percepções que tem origem na alma, podem conter a simples imaginação. A imaginação em regra é causada pelo corpo, o sonho, por exemplo, em regra termina no próprio corpo, por isso os animais podem sonhar, pois a imaginação como disse em textos anteriores, está despida da vontade, obviamente, algumas dessas imaginações podem ser paixões da alma (como os artistas).
Quando a vontade converge com a percepção dá origem à paixão, podendo se transformar em ação. Assim, por exemplo, uma emoção é produzida pelo sujeito enquanto que uma paixão é sofrida pelo sujeito. A paixão é exercida pelo objeto sobre nós (a estética/belo corporal pode provocar a paixão). Mas as paixões podem ser mantidas e amplificadas por alguns movimentos do nosso corpo, ou seja, causas mecânicas/orgânicas.
Assim, a paixão necessariamente deve ser controlada pela razão/pensamento, pois passa a se exteriorizar, e num relacionamento a pessoa com paixão pode se tornar apenas um sujeito passivo, pois se não for também praticado o amor que lhe pertence na alma, sofrerá uma paixão passiva (de sofrimentos).
Aqui fiz uma pequena distinção entre amor e paixão. O amor puro acaba ou reside sempre na alma, as paixões podem se transformar em ação do corpo e alma, e somos quase sempre sujeitos passivos das paixões!
O Amor - O verdadeiro amor do casal não é apenas do corpo imbuído de paixões e ações, mas da alma também. Os desejos físicos são contingências de um amor complexo, que podem ser verdadeiros em certas circunstâncias ou desorientados em outras. Portanto, ao analisar a relação conjugal será tal como observar um conjunto composto de elementos. O único amor simples é o celestial que apenas reside na alma que difere do composto (disso já falei!). A primeira indução quer significar que entre o homem e a mulher poderão existir momentos em que os desejos físicos podem ser ofuscados, até mesmo pelo anseio de dúvidas ou ciúmes decorrentes de paixões desprovidas do amor e da razão. No entanto, se esse desejo de outra relação for um desejo meramente corporal, apenas da paixão, necessariamente não haverá a segura dedução que estabeleça isso como verdade final de que o amor complexo (acrescido da alma desapareceu), uma vez que os demais vínculos de amor poderão restabelecer a relação original. Então, encare a situação com sabedoria, procure efetuar uma análise do fato, decompondo-o, pois o resultado será o entendimento que passa pela compreensão e razão. Então, procuramos corrigir os erros de que o simples sentido pode incorrer, uma vez que já deduzi que um dos sentidos a estética do objeto desejado, pode enganar o todo composto, levando a ações indesejadas. Pelo exterior a beleza do objeto corporal representa partes e não a coisa em si.
O amor de pais e filhos - Também é complexo, porém, mais simples do que o praticado entre o casal, entre o marido e mulher existe o amor corporal (substancial) dos desejos que estará presente acrescido de paixões.
O amor em relação aos filhos é mais puro e menos complexo, mas ao contrário da paixão, estará presente a emoção que é produzida pelo sujeito (os pais) enquanto que uma paixão é sofrida pelo sujeito. E muito pouca interferência material existe, nem o belo para si próprio, mas o de orgulho e admiração de certo modo desprovido de paixões. Mas a relação pais e filhos também pairam uma complexidade material/corporal, mas de diferente ordem. Neste amor os desejos do corpo e alma em busca da “outra parte” que os filhos seguramente irão possuir para fins do mais alto grau do amor completo no plano terreno, trata-se de uma conexão a porvir. Portanto, o amor de pais e filhos é de preparação, sempre no sentido de suas liberdades para novas conexões de seus amores e paixões.
Na verdade já opinei em textos anteriores sobre o homem primordial, completo em si mesmo e que sempre procuramos a outra parte e os filhos assim repetirão a missão que também tivemos, por todo o tempo vindouro.
Observo que neste texto em que falo do amor, não terei mais sorte do que nos demais temas, pois as paixões que eu poderia conceituar podem tirar minha razão, e os que me querem criticar que apreciem o livro de Descartes (As Paixões da Alma) o qual saberá conceituar mais do que eu pude!

Milton Luiz Gazaniga de Oliveira

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