Citei no texto “A Sociedade Transparente –
Neo-iluminismo” palavras como estas.
Mas ainda tenho que pontuar. Estou falando em
Democracia visível e legível que se trata de uma coisa simples, um poder “do povo, pelo povo e para o povo” sobre
a coisa pública, sem qualquer complexidade. O governante e governado têm olhos de
poder iguais ao utilizar o instrumento democracia sobre a coisa pública. Então
a Democracia é o panoptcon (panóptico), uma penitenciária onde o governado e
governante estão juntos. A pena a ser cumprida se refere em dar visibilidade e legibilidade
aos bens e serviços do estado os deixando mais baratos, pois esse também foi intenção
do panóptico ante uma administração simples, já
que requer poucos servidores.
Não me refiro nem me satisfaz a mera
publicidade formal para legalizar os gastos públicos. Tampouco me reporto a um estado policial no
momento histórico em que Bentham imaginou seu aparato, mas de um olhar intenso
de todos os Seres Humanos Nacionais sobre os gastos e despesas públicas no
Brasil e decorrentes nos estados federados e autônomos, e respectivas entidades por
menor que elas sejam. Viver numa democracia sem mistérios e segredos. Lembrar
de Bentham e nele se inspirar, porém para inverter o sentido da masmorra por
ele idealizado, que ora designo de “Contas
e Segredos do Estado que esconde as receitas do cidadão”, para transformá-las
em panopticon, vigiado diretamente pelo povo. Como se doravante uma luz atravessasse
de um lado para o outro essas contas, receitas e despesas públicas feitas ou
autorizadas em todos os entes e nas coisas que usamos, nelas transitamos, usufruímos
(a rua, ponte, escola, saneamento, infraestrutura, remunerações de servidores...)
Ocorre que os expertos em contas públicas
elaboram balanços que não são legíveis aos olhos dos cidadãos comuns. E os que executam as coisas pagas pelo Estado,
o fazem de forma obscura, escondendo a quantidade e as qualidades dos materiais
e serviços, superfaturando para sustentar no poder os malfeitores, em especial
através de reeleições, onde o governante se aproveita da estrutura do estado
para se manter no poder por mais um período.
Então, devemos vigiar os Entes, poderes e função
do Estado, pois Segredos e Sigilos não têm abrigo na democracia, uma vez que
servem apenas ao totalitarismo, ditaduras e aristocracias – “pois segredos servem apenas para ser
contados entre poucos” – somente os poucos, os tiranos ditadores e
aristocratas podem ter segredos entre eles, o povo não pode compactuar. Então,
uma sociedade visível e legível, necessita do saber, do olhar e enxergar, do
cuidar das coisas públicas para ele mesmo e por todos, enquanto meio de
efetivação de uma “Sociedade Transparente” como me referi no texto anterior.
Sem uma Democracia ajustada ao poder real do
povo, a lei e a Justiça enfraquecem pela falta de legitimidade da norma que
muitas vezes é feita por encomenda de interesses de ideologias partidárias,
indivíduos ou grupos de perversos malfeitores e seu séquito.
Disse Foucault:
“M F: Eu diria que Bentham é o complemento
de Rousseau. O que, de fato, o sonho de Rousseau de que tem inspirado muitos
revolucionários: a de uma sociedade transparente, visível e legível, em um
momento em cada de suas partes, não há áreas escuras, zonas ordenadas pelos
privilégios do poder real ou as prerrogativas de um determinado corpo, ou mesmo
pela doença, que todos, desde o local, você pode ver toda a sociedade,
os corações se comunicar uns com os outros, que parece não são tão obstáculos
que a opinião prevalece, que de cada em cada um. Starobinski escreveu algumas
muito interessantes sobre esta questão de transparência e de obstáculo e a
invenção da liberdade.
Bentham é ao mesmo tempo isto e o
contrário. O problema de visibilidade, mas pensando visibilidade completamente
organizada em torno de um olho dominante e vigilante. Corre-se o projeto de uma
visibilidade universal, agindo em favor de um poder rigoroso e meticuloso. Assim, o grande problema, que Rousseau
é, em certa medida o lirismo da Revolução articula a idéia técnica do exercício
do poder “omnicontemplativo” que
é a obsessão de Bentham. Os dois se unem e tudo funciona: o lirismo de Rousseau
e a obsessão de Bentham.” In FOUCAULT, Michel. Microfisica do poder / Michel
Foucault; organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro:
Edições Graal, 1995, pag. 215.
Milton
Luiz Gazaniga de Oliveira
O Texto demonstra o insistente anseio de estarmos num regime em que o governante e governado têm olhos de poder iguais ao utilizar o instrumento democracia sobre a coisa pública. Aponta os argumentos teóricos de Bentham o panopticon utilizados por Foucault e e busca de uma sociedade transparente. Para inverter o sentido da masmorra por ele idealizado, que ora designo de “Contas e Segredos do Estado que esconde as receitas do cidadão”
ResponderExcluir