“Em relação à civilização ocidental moderna,
Weber irá definir seu racionalismo específico como sendo o do “racionalismo da
dominação do mundo”. Esse racionalismo difere de modo profundo, por exemplo,
dos racionalismos não-ocidentais como o da “fuga do mundo”, típico da sociedade
de castas hindu, ou do racionalismo da “acomodação ao mundo” típico da
sociedade tradicional chinesa. https://revistacult.uol.com.br/home/a-atualidade-de-max-weber-no-brasil/”
É
claro, a racionalidade muitas vezes não pode ser genericamente considerada,
pois depende da civilização aplicada ou da matriz civilizacional de cada
sociedade específica. Quando a política em si mesma, aduziu Max Weber: “Desde
que existem os Estados Constitucionais e mesmo desde que existem as
democracias, o demagogo tem sido o chefe político típico do Ocidente.” (Ciência
e política duas vocações, SP, Cultrix, , 4ª ed., p. 79).
A matriz americana da igualdade
está centrada na liberdade social e não econômica, como adiante faço
considerações.
Acreditamos que Tocqueville descreve
com muito acerto o espirito americano, todavia, sabemos que a democracia
atingida apenas pelo critério liberdade nem sempre gera igualdades. Gera sim a
igualdade social, mas não uma igualdade econômica e um bem-estar mínimo ao
cidadão, justamente porque a matriz da igualdade, nas oportunidades e escolhas
depende mais do grau de emancipação e de autonomia das pessoas/povos. Isso se
demonstra diferente no espirito de outros povos, em especial do latino
americano os quais são multiétnicos e
por consequência uma formação cultural e religiosa diversa dentro da nossa
própria nação (Brasil). Então, a Igualdade americana é
essencialmente social, mas não econômica.
Obs. Liberdade social
aqui mencionada consiste em que os ideais possam ser vividos para
que todos possam ter acesso as coisas e bens, realizando seus objetivos ou
metas com seus próprios esforços, ou a utilização da sua liberdade individual, ou seja, a sua autonomia. A liberdade social que conceituamos então se difere das
sociedades fechadas que entrega tudo supostamente resolvido, pois nesta a
pessoa é menos livre, mais coacta, uma vez que você não pode colocar-se
onde deseja ou que merece.
Tocqueville
pág. 40-41 (Viagem aos Estados Unidos) narra na sua época (1831-1832) o
espirito americano. “O americano é devorado pelo desejo de fazer fortuna: é
a única paixão de sua vida; ele não tem lembranças que o liguem a um lugar ao
invés de um outro; nada de costumes inveterados; nenhum espírito de rotina; é
testemunha cotidiana das mudanças mais bruscas da fortuna, e teme menos do que
qualquer habitante do mundo expor o adquirido na esperança de um futuro melhor;
porque sabe que se pode sem dificuldade recriar novos recursos. Entra, pois, na
grande loteria das coisas humanas com a segurança de um jogador que só arrisca
seu ganho. O mesmo homem, disseram nos amiúde, tentou algumas vezes dez
estados. Viram-no sucessivamente comerciante, homem da lei, médico, ministro
evangélico; habitou vinte lugares diferentes e em nenhum lugar encontrou laços
que o retivessem.”
Aduzo que o Americano enxerga na
liberdade como sua primeira conquista depois da vida. Sobre a superioridade dos
costumes sobre as leis, disse Tocqueville “Depois de se ter refletido
bem sobre os princípios que fazem os governos agirem, sobre aqueles que os
sustentam ou arruínam, quando se passou muito tempo a calcular com cuidado qual
a influência das leis, sua bondade relativa e sua tendência, chega-se sempre a
esse ponto que acima de todas essa considerações, fora de todas as
leis, encontra-se uma força superior a elas: é o espirito e a moral do povo,
seu caráter. As melhores leis não podem fazer funcionar uma
constituição a despeito da moral; a moral tira partido das piores leis. Esta é
uma verdade comum,...”. Portanto, vejo que o
direito consuetudinário americano é mais vivo e superior ao
legislado, por isso mesmo o sistema common law impera na justiça americana. Ao
contrário do direito brasileiro positivado/legislado, com matriz no sistema
civil law, ocasiona profundos entraves burocráticos aos critérios de justiça.
Mas o que isso reflete na nossa
atualidade aqui no Brasil ao criticarmos determinadas práticas norte
americana?! Ora, somos um povo com muitas diferenças e pontos em comum com eles,
claro! Portanto, não temos o direito de transportar exemplos de lá para cá nem
impor nossas regras de conviver ao povo de lá! Pois lá impera efetivamente “a
dominação do mundo”, lá impera a liberdade social que é diferente da matriz de
liberdade econômica daqui que sofre intervenção por regulada. A própria
religião de um modo geral se difere também. Significa dizer que lá a economia
deve ser apenas minimamente regrada pelo estado. Significa dizer ainda que o
uso e porte de arma está naquele país dentro do conceito de liberdade social e
da imposição do costume e moral, da religião do povo norte americano e de seu
caráter, já que o estado não deve proteger diretamente o cidadão, mas abster-se
de muitos atos. Paradoxalmente, aqui o desarmamento do cidadão vem
trair o espirito de liberdade, mas não de modo similar ao do espirito americano
como narrei, porém, pela bandidagem descontrolada que via transversa nos tolhe
a liberdade e faz nascer a consequente necessidade de possuirmos a mínima
autodefesa ou proteção pessoal e renascer o direito de possuirmos arma. Mas com
adequados treinamentos e orientações pelo menos no âmbito domiciliar de
todo o cidadão brasileiro desde que atendam certos requisitos legais objetivos.
No ano de 2017 presenciei uma
narrativa do espirito escandinavo, que poderia dizer pra mim mesmo, com sendo o
conceito da busca ou chave da felicidade daquele povo. Então, narro sem
qualquer caráter científico, no qual uma historiadora afirmou, ironicamente,
que o sonho do jovem nórdico era fazer economias suficientes para comprar um
barco, morar numa ilha e ser feliz. A referida narrativa pelo menos apontou uma
reflexão sobre o futuro da região, uma vez que o povo começou a se sentir
melhor ao desapego da apropriação das coisas ou se recusar em fazer
fortuna/capital, mas ter momentos aprazíveis, como um jantar à luz de vela,
reunião em família, beber um vinho ou cerveja com amigos, curtir a
música ou cantar, saborear um café ou comida de pratos típicos como
caranguejos... Todavia, isso provocaria muito desconforto à nação, pois sendo
um estado do bem-estar social em especial com a educação e cuidado das pessoas
desempregadas e idosas, financiado pelos impostos, esse elemento financiador
tributário como sendo geralmente os bens, capital, rendas, sua consequente
redução geraria muita preocupação. Claro, a pessoa inserida no espirito do
bem-estar social, buscando a felicidade se sentiria desconfortável para gerir e
manter a riqueza no plano individual, pois exige esforços e muita dedicação.
Dito isso, resulta que a simples e pura busca pela felicidade pode causar um
desinteresse geral pela apropriação e administração individual das coisas que
envolvem riquezas e haveria inevitavelmente consequente retrocesso econômico
aos países, caso povo viesse a se revestir efetivamente do espírito da busca
apenas da felicidade, similar ao comunismo da igualdade econômica genérica,
numa espécie de fuga do mundo.
Assim, concluo que a liberdade social
americana difere em parte dos demais espíritos de civilizações dos outros
povos. Poderia introduzir mais análises, porém tornaria o texto longo.
Milton Luiz Gazaniga de Oliveira
Obs. Texto em construção com
possíveis alterações.