quinta-feira, 8 de março de 2018

A Liberdade Americana (USA)

Seria necessário iniciar o tema com a análise de Tocqueville, ou seja, sobre o que ele dizia em relação ao espirito americano na sua viagem aos Estados Unidos (1831-1832). Mas não sem antes citar Max Weber o qual disse: No ocidente, a dominação do mundo (a criação, apropriação... das coisas pelo conhecimento ou pelo desejo de posse), enquanto que nas sociedades não ocidentais, o da fuga do mundo (O desapego das coisas meramente materiais). Veja ainda no site abaixo:
 “Em relação à civilização ocidental moderna, Weber irá definir seu racionalismo específico como sendo o do “racionalismo da dominação do mundo”. Esse racionalismo difere de modo profundo, por exemplo, dos racionalismos não-ocidentais como o da “fuga do mundo”, típico da sociedade de castas hindu, ou do racionalismo da “acomodação ao mundo” típico da sociedade tradicional chinesa. https://revistacult.uol.com.br/home/a-atualidade-de-max-weber-no-brasil/”
É claro, a racionalidade muitas vezes não pode ser genericamente considerada, pois depende da civilização aplicada ou da matriz civilizacional de cada sociedade específica. Quando a política em si mesma, aduziu Max Weber: “Desde que existem os Estados Constitucionais e mesmo desde que existem as democracias, o demagogo tem sido o chefe político típico do Ocidente.” (Ciência e política duas vocações, SP, Cultrix, , 4ª ed.,  p. 79).
 A matriz americana da igualdade está centrada na liberdade social e não econômica, como adiante faço considerações.
Acreditamos que Tocqueville descreve com muito acerto o espirito americano, todavia, sabemos que a democracia atingida apenas pelo critério liberdade nem sempre gera igualdades. Gera sim a igualdade social, mas não uma igualdade econômica e um bem-estar mínimo ao cidadão, justamente porque a matriz da igualdade, nas oportunidades e escolhas depende mais do grau de emancipação e de autonomia das pessoas/povos. Isso se demonstra diferente no espirito de outros povos, em especial do latino americano os quais são multiétnicos e por consequência uma formação cultural e religiosa diversa dentro da nossa própria nação (Brasil). Então, a Igualdade americana é essencialmente social, mas não econômica.
Obs. Liberdade social aqui mencionada consiste em que os ideais possam ser vividos para que todos possam ter acesso as coisas e bens, realizando seus objetivos ou metas com seus próprios esforços, ou a utilização da sua liberdade individual, ou seja, a sua autonomia. A liberdade social que conceituamos então se difere das sociedades fechadas que entrega tudo supostamente resolvido, pois nesta a pessoa é menos livre, mais coacta, uma vez que você não pode colocar-se onde deseja ou que merece.
 Tocqueville pág. 40-41 (Viagem aos Estados Unidos) narra na sua época (1831-1832) o espirito americano. “O americano é devorado pelo desejo de fazer fortuna: é a única paixão de sua vida; ele não tem lembranças que o liguem a um lugar ao invés de um outro; nada de costumes inveterados; nenhum espírito de rotina; é testemunha cotidiana das mudanças mais bruscas da fortuna, e teme menos do que qualquer habitante do mundo expor o adquirido na esperança de um futuro melhor; porque sabe que se pode sem dificuldade recriar novos recursos. Entra, pois, na grande loteria das coisas humanas com a segurança de um jogador que só arrisca seu ganho. O mesmo homem, disseram nos amiúde, tentou algumas vezes dez estados. Viram-no sucessivamente comerciante, homem da lei, médico, ministro evangélico; habitou vinte lugares diferentes e em nenhum lugar encontrou laços que o retivessem.”  
Aduzo que o Americano enxerga na liberdade como sua primeira conquista depois da vida. Sobre a superioridade dos costumes sobre as leis, disse Tocqueville “Depois de se ter refletido bem sobre os princípios que fazem os governos agirem, sobre aqueles que os sustentam ou arruínam, quando se passou muito tempo a calcular com cuidado qual a influência das leis, sua bondade relativa e sua tendência, chega-se sempre a esse ponto que acima de todas essa considerações, fora de todas as leis, encontra-se uma força superior a elas: é o espirito e a moral do povo, seu caráter. As melhores leis não podem fazer funcionar uma constituição a despeito da moral; a moral tira partido das piores leis. Esta é uma verdade comum,...”. Portanto, vejo que o direito consuetudinário americano  é mais vivo e superior ao legislado, por isso mesmo o sistema common law impera na justiça americana. Ao contrário do direito brasileiro positivado/legislado, com matriz no sistema civil law, ocasiona profundos entraves burocráticos aos critérios de justiça.
Mas o que isso reflete na nossa atualidade aqui no Brasil ao criticarmos determinadas práticas norte americana?! Ora, somos um povo com muitas diferenças e pontos em comum com eles, claro! Portanto, não temos o direito de transportar exemplos de lá para cá nem impor nossas regras de conviver ao povo de lá! Pois lá impera efetivamente “a dominação do mundo”, lá impera a liberdade social que é diferente da matriz de liberdade econômica daqui que sofre intervenção por regulada. A própria religião de um modo geral se difere também. Significa dizer que lá a economia deve ser apenas minimamente regrada pelo estado. Significa dizer ainda que o uso e porte de arma está naquele país dentro do conceito de liberdade social e da imposição do costume e moral, da religião do povo norte americano e de seu caráter, já que o estado não deve proteger diretamente o cidadão, mas abster-se de muitos atos. Paradoxalmente, aqui o desarmamento do cidadão vem trair o espirito de liberdade, mas não de modo similar ao do espirito americano como narrei, porém, pela bandidagem descontrolada que via transversa nos tolhe a liberdade e faz nascer a consequente necessidade de possuirmos a mínima autodefesa ou proteção pessoal e renascer o direito de possuirmos arma. Mas com adequados treinamentos e orientações pelo menos no âmbito domiciliar de todo o cidadão brasileiro desde que atendam certos requisitos legais objetivos.
No ano de 2017 presenciei uma narrativa do espirito escandinavo, que poderia dizer pra mim mesmo, com sendo o conceito da busca ou chave da felicidade daquele povo. Então, narro sem qualquer caráter científico, no qual uma historiadora afirmou, ironicamente, que o sonho do jovem nórdico era fazer economias suficientes para comprar um barco, morar numa ilha e ser feliz. A referida narrativa pelo menos apontou uma reflexão sobre o futuro da região, uma vez que o povo começou a se sentir melhor ao desapego da apropriação das coisas ou se recusar em fazer fortuna/capital, mas ter momentos aprazíveis, como um jantar à luz de vela, reunião em família,  beber um vinho ou cerveja com amigos, curtir a música ou cantar, saborear um café ou comida de pratos típicos como caranguejos... Todavia, isso provocaria muito desconforto à nação, pois sendo um estado do bem-estar social em especial com a educação e cuidado das pessoas desempregadas e idosas, financiado pelos impostos, esse elemento financiador tributário como sendo geralmente os bens, capital, rendas, sua consequente redução geraria muita preocupação. Claro, a pessoa inserida no espirito do bem-estar social, buscando a felicidade se sentiria desconfortável para gerir e manter a riqueza no plano individual, pois exige esforços e muita dedicação. Dito isso, resulta que a simples e pura busca pela felicidade pode causar um desinteresse geral pela apropriação e administração individual das coisas que envolvem riquezas e haveria inevitavelmente consequente retrocesso econômico aos países, caso povo viesse a se revestir efetivamente do espírito da busca apenas da felicidade, similar ao comunismo da igualdade econômica genérica, numa espécie de fuga do mundo.
Assim, concluo que a liberdade social americana difere em parte dos demais espíritos de civilizações dos outros povos. Poderia introduzir mais análises, porém tornaria o texto longo.
Milton Luiz Gazaniga de Oliveira
Obs. Texto em construção com possíveis alterações.

Um comentário:

  1. Discurso de posse do Presidente John Fitzgerald Kennedy
    Trechos:
    “Por isso, meus compatriotas, não perguntem o que seu país pode fazer por vocês - mas o que vocês podem fazer pelo seu país.”
    “prometemos nossos melhores esforços para ajudá-los a se ajudarem, por quanto tempo for necessário.”
    “Por fim, àquelas nações que se fazem adversárias, oferecemos não uma promessa, mas um pedido: que ambos os lados recomecem a busca pela paz, antes que as forças sombrias da destruição, desencadeadas pela ciência, engulam a humanidade como um todo em um autoextermínio planejado ou acidental. Não ousamos provocá-las com fragilidade..... Vamos então começar do zero, lembrando, de um lado e de outro, que civilidade não é sinal de fraqueza, e que a sinceridade está sempre sujeita a prova. Que jamais negociemos por medo, mas que nunca tenhamos medo de negociar.”

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