sexta-feira, 1 de julho de 2016

O Vigilante

Quando falo de um Estado Puro, de Lei e Ordem, claro que faço referência à cidade pensada por Platão, onde as Leis existentes são apenas as necessárias e outras seriam inúteis ou ingênuas, pois a educação seria para formar homens cumpridores da lei e honestos (pág. 118).  Por exemplo, uma lei que determinasse aos mais novos o silêncio, o respeito, o de dar-lhe o lugar e se levantarem diante dos mais velhos, e os cuidados com os pais. Mas tais leis, segundo Platão, seriam inúteis, pois desnecessárias diante do cumprimento natural. Sobre a ciência, Platão não destaca uma das existentes na cidade como sendo a sábia por si só, mas se refere a “totalidade” das variadas espécies de ciências, por exemplo, daquelas que se referem ao carpinteiro, à ciência da construção - arquitetura, e outras quanto mais integram a totalidade da feitura da cidade. Contudo, disse diante da pergunta de Adimanto: “...Existe alguma ciência, na cidade que há pouco falamos, em alguns dos seus cidadãos, pela qual delibere, não sobre qualquer pormenor que nela se encontre, mas sobre a sua totalidade, sobre a melhor maneira de se comportar consigo mesmo e perante as outras cidades? Existe, sim senhor. Qual ela? Perguntei eu –  E em quem existe? (Platão) – Essa ciência é a vigilância – respondeu ele -, e encontra-se naqueles chefes que agora mesmo classificamos de guardião perfeitos.” (Vide A República, Martin Claret, 2004, pág. 122-123.). Assim, a essa ciência (dos guardiões Perfeitos) ele chama por natureza de “Sabedoria”. Eu aduzo que a “sabedoria” está nas habilidades sobre várias coisas, e que existe o “conhecimento” na ciência de determinadas coisas. Todavia, a sabedoria está em saber dispor do conhecimento do melhor modo. O conhecimento pode ser utilizado para o mal, já a sabedoria em regra não, pois posso ter conhecimento sem deter sabedoria, então poderei ser um arquiteto e não ter sabedoria, mas posso ter sabedoria com menos conhecimento do que outro Ser letrado. Quem tem a sabedoria tem o “todo” e não apenas a parte.
Mas Platão também falava na especialidade das funções e as classes eram baseadas nas funções de ordem natural. Qualifica como mal, a invasão de tarefas e competências entre as classes em si, e se isso ocorresse lavaria a cidade a ser definida como de injustiças para ele. E a justiça reside aí em se portar do modo conforme as tarefas competentes sem ingerências, sem alterações ou perturbações. E o homem justo é aquele enquanto cópia desta cidade perfeita, ou semelhante a ela. (pág. 130).
Nesse ponto, Platão combate as mudanças, pois as mudanças no mundo sensível segundo ele não seriam virtuosas, mas imperfeitas, cópias imperfeitas, ilusões. Assim sendo, sua filosofia fala do mundo das idéias como um lugar fora do tempo, portanto,  imóvel e se contrapõe a de Heráclito, pois este propõe o fluxo, um eterno devir.
Assim, doravante ao não estarmos diante de uma cidade perfeita (Pura, de Lei e ordem) que atendia ao “todo”, pois o racionalismo natural e ideal de Platão que seria o “todo” em que preservava hierarquias, hoje inexiste. Todavia, aqui no meu tempo, temos um Estado composto por partes autônomas, de grupos e movimentos, indivíduos emancipados... Estamos diante de um Estado Plural, com várias partes em que as competências, funções, profissões estão abertas e exercidas por quem desejar exercê-las ou mudar-se delas, usufruindo o exercício dos ofícios seja daqueles que contém técnicas e ciências autorizadas, assim como inseridos em atividades meramente de ordem prática. Então, somos regidos por matérias e não por classes ou pessoas, sendo que o racionalismo tomou partido (partes) seja de grupos ou indivíduos. Estamos num mundo, repito, corruptível pelas coisas partidas e em mudanças, pelo fluxo ainda que na constância dela.
Assim, cada um de nós devemos ser Guardiões das coisas, bens, serviços e das normatizações editadas pelo Estado, para que a totalidade seja resgatada pela própria parte “interessada”, doravante, um cidadão vigilante e guardião.
Milton Luiz Gazaniga de Oliveira

(Texto sujeito a correções) 

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