O
oposto da verdade, sendo um dos antônimos, é a mentira, mas procurar a verdade
através da mentira seria uma tarefa desmesurada.
Estou
convencido que a verdade se encontra distante da imitação, e desta até aquela
existe um caminho possível de se conhecer. Então, parece-me que a verdade se difere da imitação! Claro, a arte de imitar está bem longe da
verdade, pois a imitação não passa de uma aparição. Contudo a imitação pode
facilmente ludibriar as crianças e os homens ignorantes. Um bom pintor (e o marqueteiro
imita o pintor!) pode imitar a figura de um autêntico trabalhador e quem olha
de longe ou viu rapidamente, passa a ter a imitação como verdade.
Um
charlatão não consegue extremar a ciência que imita. Por isso, não será um
médico, senão um imitador da linguagem dos médicos. E assim também fazem os
falsos filósofos, imitam a linguagem dos filósofos, mas não conhecem a
filosofia, não possuem "amor à sabedoria", tanto no estudo de problemas
fundamentais relacionados à existência, ao conhecimento, à verdade,
como nos valores morais e estéticos, à mente, à linguagem e a razão. Um falso filósofo vive na doxa
(sofista), que é baseado somente na aparência.
Se
uma pessoa pudesse fazer o objeto e a perfeita imitação dele pela imagem,
possivelmente poria está última aptidão na primeira linha de sua vida. Passaria
então a imitar. Mas se fosse conhecedor profundo das coisas que imita teria sua
aptidão mais voltada às obras do que a imitação.
Do
mesmo modo posso criar objetos e tudo o que existir perto de mim, até onde a
luz permitir sem oclusão. Neste caso me utilizo do espelho. No entanto, o que
vejo não é verdadeiro, tal como uma pintura, é aparente. Por outro lado se sou
proprietário de um automóvel não o tenho como verdadeiro, uma vez que foi
apenas executada uma ideia, um projeto, passando a ser semelhante, aparente, um
carro qualquer. Ademais, se assim penso, o fabricante do carro faz algo que não
é verdadeiro, mas alguma coisa de semelhante ao que existe, e que ao mesmo tempo não
existe. Mas o homem só conseguiu fazer o motor por tração (semelhante) e não por atração, enquanto causa final: "Aristóteles
fala da passagem da Potência ao Ato e afirmou que deveria haver um primeiro
motor. Tudo se move de uma para outra condição e até o universo assim estabelece (Deus como causa final,
movimento por atração, o motor imóvel) - http://utquid.blogspot.com.br/2016/02/a-liberdade-esta-entre-potencia-e-ato-o.html"
Então,
parece que a Arte de Imitar está
distante da realidade e longe da verdade esta enquanto pertencente ao Criador,
bem como do Artífice que reproduz, pois o imitador mesmo executando tudo
ao que parece, atinge uma pequena porção de cada coisa, que não passa de uma
aparição. Platão exemplifica: “Por
exemplo, dizemos que o pintor nos pintará um sapateiro, um carpinteiro, e os
demais artífices, sem nada conhecer dos respectivos ofícios. Mas nem por isso
deixará de ludibriar as crianças e os homens ignorantes, se for bom pintor,
desenhando um carpinteiro e mostrando-o de longe com a semelhança, que lhe
imprimiu, de um autentico carpinteiro” (pag. 296-97).
Na
política há falsos artífices, pois apenas poetas idênticos a Homero, afastados
nos três pontos da verdade, uma vez que fazem da Imitação a primeira da suposta
virtude da verdade. Não conhecem quais são as atividades que tornam os homens
melhores ou piores, na vida pública ou particular. Por isso, imitadores das
imagens da virtude e dos restantes assuntos sobre os quais compõem em seus
textos e discursos, porém, não atingem a verdade, senão aparências. Mas a arte
sobre o objeto está em três pontos: a de utilizá-lo, a de confeccioná-lo e a de
imitá-lo. Portanto, o bom político deve ter o completo domínio sobre o objeto
de modo a utilizá-lo, confeccioná-lo e de imitá-lo. No que se referem as demais
profissões basta se especializar num dos pontos sobre o objeto, sem exceder o
seu campo, uma vez que se ao contrário fizesse estaria se distanciando ainda mais da
verdade.
Assim
sendo, a imitação quando fora do palco, da tragédia em si mesma, se distancia
do artífice e da verdade criadora, e devemos lançar mãos à medição, ao cálculo,
a pesagem de tal modo a prevalecer sobre a aparência. E essas operações podem
ser trabalhadas pela razão que está em nossa alma. (No Ideal).
Milton
Luiz Gazaniga de Oliveira
Referente:
Platão.
A República. Livro X. Martin Claret, São Paulo, 2004. (pags. 293 segs.)
Um bom pintor (e o marqueteiro imita o pintor!) pode imitar a figura de um autêntico trabalhador e quem olha de longe ou viu rapidamente, passa a ter a imitação como verdade.
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