A
história descreve inúmeras passagens em que fomos traídos pelos dirigentes
intelectuais do gênero humano. Mas sempre recaímos na mesma infância. Sim,
porque os jovens inexoravelmente passam pela infância e as carrega por longos
dias. E os contos encantam as crianças e até pessoas de outras fases, menos os
velhos!
O
surgimento das fases começa com movimentos reacionários, tentando derrubar a
civilização, porém, retornando ao tribalismo uma vez que dividem a sociedade civilizada
em tribos: das espécies, dos gêneros, das minorias, dos diferentes... No
entanto, aduzo que a tribo sempre foi adepta a prática totalitária, pois
dependente da obediência incondicional a um chefe! Depois começamos uma nova
luta contra o totalitarismo!! Retomam as profecias históricas “do todo”,
sustentado em que tudo é movimento e que as partes ou coisas são vulneráveis ou
perecíveis pelo fluxo e movimento. Já o todo permanece na mesma forma, pois há
sempre uma estabilidade no todo e mudanças nas partes, ou pelo menos um eterno
retorno. Assim, os integrantes das tribos andam em marcha com bandeiras e
instrumentos em mão, seguindo rituais determinado pela idéia da tribo. Para
iludir e encantar adeptos se dizem a favor de uma sociedade aberta, nos moldes
de Péricles de Atenas: “Embora somente
poucos possam dar origem a uma política, somos todos capazes de julgá-la”. Contudo,
as idéias que defendem derivam das regras platônicas, pois necessitam de chefes
de tais tribos criadas e acabam num inconsciente coletivo contra a sociedade
aberta, pois o eu e aqueles (os outros) devem seguir ao meu chefe, da minha
tribo. Portanto, contra a sociedade aberta, pois, defende uma sociedade unitária,
tal como Platão: “O maior de todos os
princípios é que ninguém, seja homem ou mulher, deve carecer de um chefe. Nem
deve a mente de qualquer pessoa ser habituada a permitir-lhe fazer ainda que a
menor coisa por sua própria iniciativa, nem por zelo, nem mesmo por prazer. Na
guerra como em meio à paz, porém, deve ela dirigir a vista para seu chefe e
segui-lo fielmente. E mesmo nas mais ínfimas questões devem manter-se em
submissão a essa chefia. Por exemplo, deve levantar-se, ou mover-se, ou
lavar-se, ou tomar refeições... apenas se lhe for ordenado que faça. Numa
palavra, deve ensinar sua alma, por hábito prolongado, a nunca sonhar em agir
independentemente e a tornar-se totalmente incapaz disso.”
Ora,
seguir um líder..., é não tomar uma atitude racionalista, mas histórica em que
o todo está presente, já que uma atitude histórica por constituir o todo,
ultrapassa a força da razão, e assim as filosofias sociais sustentam a revolta
contra a civilização em que as partes individuais ou pequenos grupos preponderam.
Adotam uma filosofia platônica, pois as coisas ordinárias (materiais) como estão
postas está fadada a cair pela mudança, ou seja, ao fluxo das coisas e,
portanto, sujeitas a desvanecer, tal como Heráclito dizia. E assim, apenas as
idéias é que permanecerão, uma vez que a forma ou idéia passa a ser uma coisa
perfeita e não perece. Portanto, defendem uma idéia coletiva, ou seja, uma mecânica
social de todas as coisas, pois o todo não perece. Ao contrário, o racionalismo
aponta ou tem incidência sobre as coisas perecíveis.
Quando
eu falo que o todo não perece, já me referi em outros textos sobre a indestrutibilidade.
Veja: o sol nasce e se põe todos os dias, tal como os solstícios tendem a
eternidade, já o homem racional chega a um determinado dia em que perece, mas a
espécie humana, por exemplo, enquanto um todo, tende a ser imperecível.
Mas
aí reside o antagonismo, uma vez que também passam a dividir os seguimentos
maiores em partes para atingir o todo, mas esquecem que as partes podem
rapidamente se desintegrar do todo em
face de novas e surpreendentes contingências, e voltam a cair na armadilha das
coisas perecíveis.
Sim,
pois dividem a sociedade em tribos e as tribos são partes e todas as partes
estão em contato com o tempo e espaço e se corrompem ante as coisas sensíveis.
Então,
chamo de traição intelectual o fato de começarem pela indução das partes para
chagar ao todo. Destarte, inexoravelmente divide o todo (até então composto de
uma sociedade dita individualista e civilizada incorretamente), porém, em
partes. Mas as partes são perecíveis com o tempo e espaço, uma vez que o tempo
muda de modo instantâneo. Veja que até as partes antagônicas podem se combinar,
mudando a própria forma. Assim, o ideal se distancia ainda mais da combinação dada pelo protótipo/arquétipo do todo, porque o todo de agora mudou a própria história de ontem, onde apenas
o racionalismo pode resistir diante das partes ainda que corruptíveis, pois as
partes corruptíveis se combinam mais fácil e rapidamente até para o bem do todo e de todos.
Milton
Luiz Gazaniga de Oliveira
Obs.
“A mecânica social da qual me refiro, enfoca ser mais importante a consciência
coletiva, portanto, superior à consciência individual, destarte, suprimindo a
personalidade do indivíduo. Isto é, o indivíduo é uma coisa ou parte da
sociedade e a consciência individual é uma simples dependência do tipo coletivo
e todos os indivíduos são parecidos de certo modo iguais. Disso resulta na necessidade
de um conjunto de crenças e sentimentos comuns a todos os membros mais ou menos
organizados.”