segunda-feira, 24 de outubro de 2016

A metafísica

Ninguém conseguiria estabelecer um conceito bem delimitado sobre a metafísica. Em similar questão, lembro-me que numa ocasião ao elogiar o historicismo, recebi em tom de brincadeira de um amigo o conceito leigo sobre os historicistas (aqueles que lidam com a história) que em síntese ele me dizia: é um Advogado, de defesa ou acusador dos mortos!
A metafísica para Voltaire identifica como sendo: “Trans naturam, além da natureza. Será que aquilo que está além da natureza é alguma coisa? Eis que por natureza entende-se matéria, e por metafísica, o que não é matéria. Por exemplo, vosso raciocínio, que não é comprido nem largo, nem alto, nem sólido, nem pontiagudo.” Veja, esses adjetivos utilizados por Voltaire no seu exemplo caracterizam a matéria. Prossegue ele: “Ou então vossa alma, que desconheceis, e que produz vosso raciocínio. Os espíritos, dos quais sempre se falou e aos quais durante muito tempo se atribuiu um corpo tão sutil que já não era mais corpo, e dos quais, finalmente, se tirou qualquer vestígio de corpo, e não se sabe mais o que lhes restou. O modo como esses espíritos sentem sem ter o embaraço dos cinco sentidos, como pensam sem cabeça, como comunicam seus pensamentos sem palavras e sem signos.” Então para ele a metafísica pode ser a abstração do olfato, paladar, visão, tato, audição. Adiante adentra no plano teológico ao dizer que: “Em suma, é também metafísica, Deus, que conhecemos por suas obras, mas que nosso orgulho quer definir. Deus, de quem sentimos o imenso poder. Deus, separado de nós por um abismo infinito e cuja nobreza ousamos sondar.” Prossegue também no mundo da matemática: “... até mesmo os princípios da matemática, pontos sem extensão, linhas sem largura, superfícies sem profundidades, unidades divisíveis ao infinito etc. Até Bayle acreditava que esses objetos eram seres de razão, mas são apenas efeitos de coisas materiais consideradas em suas massas, superfícies, larguras e comprimentos.” Neste parágrafo de Voltaire, ao analisarmos superficialmente, diríamos que o pensador combate o racionalismo de Bayle, afirmando o equivoco deste, pois se assim fosse, ela seria um produto da matéria sobre o pensamento, ou seja, o  mundo substancial que nutriria as idéias,  e então equivocadamente a metafísica seria o resultado da existência da matéria/coisas, mas a metafísica se desprende da matéria, e para Voltaire essas instâncias (matéria e pensamente) nunca se relacionam na metafísica. Prossegue, excluindo a geometria da metafísica: São justas e demonstráveis todas as medidas e a metafísica nada tem a ver com a geometria.  Permite assim dizer ser metafísico sem ser geômetra..."  Mas então autonomamente poderia me desprender dos adjetivos da matéria e minha metafísica pairar no mundo ideal (das idéias) invertendo o caminho, pois a metafísica pode ir da ideia à matéria sem depender desta, sendo assim a melhor maneira de compreender a metafísica.
Concluo:
Na verdade eu sempre me guio por meio de um conceito tradicional, ou seja, ela busca a essência das coisas, os limites do conhecimento humano, e de fato, como disse Voltaire, não depende dos sentidos humano. Ligando-se mais ao conhecimento por intuição, ou aprioristicamente enquanto conjunto de verdades gerais de caráter absoluto, que pode servir de base de qualquer ciência. Portanto, mais inteligível do que sensível. Pode ser chamada de ontologia.
Milton Luiz Gazaniga de Oliveira
- Dicionário Filosófico. Voltaire, texto integral. Martin Claret, 2008, pág. 380.

(texto sujeito a revisão e alterações)

Um comentário:

  1. Voltaire ...O modo como esses espíritos sentem sem ter o embaraço dos cinco sentidos...

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