sábado, 17 de fevereiro de 2018

Platão e Aristóteles

Na minha visão um tanto simplista, ou sem caráter científico, afirmo que os dois pensadores tiveram origem ou começo da exteriorização dos seus conhecimentos na antiga Grécia, sendo os primeiros filósofos que deixaram registrados por escrito os mais célebres pensamentos. Platão fundou sua escola “A Academia de Atenas” e Aristóteles então aluno de Platão, fundou o “Liceu”.
Os pensamentos de ambos se diferem em alguns pressupostos, uma vez que Platão valorizou o mundo das ideias (vide a alegoria da caverna, a visão das sombras dos objetos), que é o imaterial, colocando a essência na alma, nas ideias, na razão ou no mundo das formas. Seu principal pressuposto foi em afirmar que o mundo substancial ou das coisas não é perfeito, pois se degenera (ex. nosso corpo envelhece e morre, o ferro se corrompe pela oxidação, a alma, a ideia não). Então para ele o mundo das ideias é o mais perfeito porque é incorruptível, divino e não se degenera, pois tudo o que pensamos é perfeito, porém os objetos não. Ele dividiu a alma numa parte boa e outra ruim ou do mal, sendo esta mais abundante do que a parte boa. Contudo, aduziu que o modo de superar a parte ruim está em fazer exercícios, praticando virtudes e só assim a parte boa se fortalece, como se fosse uma academia de ginástica para fortalecer os músculos. 
Já Aristóteles, apesar de racionalista, pois estabelece a lógica aristotélica e o método indutivo atribuindo este a Sócrates, voltou-se mais ao mundo corporal ou substancial como algo importante, divergindo de Platão nesse aspecto, pois a essência está na substância, nas coisas, nos fatos e acontecimentos, reconhecendo o mundo sensível e causal, entregando também o conceito de potência e ato, cujo assunto já escrevi.
Platão fala no motor primeiro que é Deus e todas as outras coisas substanciais seria uma cópia degenerada da primeira ideia ou da essência divina. Seria então uma defesa do inatismo?! ou uma gravitação sob a idéia original?! pois todas as coisas seriam cópias ou alterações degeneradas do mundo das ideias.
Aristóteles também fala da passagem da Potência ao Ato e afirmou que deveria haver um primeiro motor. Mas, tudo se move de uma para outra condição (Deus como causa final, movimento por atração).
Então, Platão dividia corpo e alma, sendo o primeiro de caráter material, mutável e corruptível. Já a alma, seria a porção divina do Ser, a parte imutável e perfeita. Aristóteles observava e pensava a matéria, os fatos, a forma, a causa eficiente e final.
Aristóteles colocou Deus na parte final, na frente, por atração, pois viu a essência na substância, nas coisas e então a possibilidade de aprimorá-las através delas (suas essências) até a perfeição, como causa final, Deus, a perfeição das coisas.
Já Platão colocou Deus na causa inicial e dele não podendo se afastar ou melhor, no seu pessimismo de que tudo tende a se degenerar ou cópias imperfeitas. Defendendo de um certo modo o inatismo ou de gravitação sob a forma perfeita do mundo das ideias.
Para os amantes de veículos antigos, Platão tinha um fusca e Aristóteles uma rural ou jeep ford willys, o primeiro com motor atrás impulsionando/empurrando, por dedução, do maior Deus, para o menor decorrente daquele. Já o segundo, com o motor na frente por indução, atração, puxando do menor, as coisas, ao maior Deus. (Mas isso não é um bom comparativo! Certamente faço uma mera descontração!)  
Aristóteles tem seu pensamento voltado às coisas, mais sensitivo, na observação do comportamento e seus fenômenos, talvez tenha se afeiçoado ao empirismo, apesar de ser um racionalista, pois estabeleceu o silogismo e a sua lógica com métodos indutivo, dedutivo. Platão no idealismo teve como fonte ou vê nas ideias, as invenções e habilidades de criar mesmo sem experimento ou demonstração no mundo empírico.
A República idealizada por Platão seguiu nessa linha, ou seja, diminuir o máximo a possibilidade de degeneração. Por exemplo, o alfaiate com o seu dom faria as roupas e sempre seria alfaiate sem mudar de atividade e seus filhos também. Talvez tal requisito da sua república seja o começo da hodierna especialização de funções ou de tarefas. Então, os Governantes deveriam ser de determinada classe dos sábios e nessa república não poderia haver casamentos entre pessoas de classes diversas, por exemplo, os guardiões deviam casar-se na mesma classe. As demais classes (agricultor, escultor, pintor, pedreiros...) também formando casais do mesmo ofício. Contudo, para tornar a república mais perfeita, os governantes, sem que os subalternos, a plebe, soubessem deveriam tornar os casamentos das classes inferiores menos atrativos, evitando a procriação e consequente degeneração da república, enquanto que nas classes superiores os casamentos deveriam ser incentivados e as procriações para tornar a república perfeita.
Quer me parecer que as idéias de Platão e Aristóteles tiveram eco em diversas correntes de pensamentos. Por exemplo no existencialismo, em que uma delas afirma que você é humano por natureza, pois a natureza está na alma, você nasce com todos os atributos, inclusive, imagino que os reinados recorriam a similares preceitos divino. Nascerás como verdadeiro Ser, pois a essência está na alma, eu já sou dotado de uma idéia original, um Ser completo, basta aperfeiçoar o dom nato, seja de cantor, médico, professor, príncipe..., apenas se exercitar para colocar em prática esse dom. Portanto, Platão deu um caráter singular ao Ser, indo no sentido da essência preceder a existência. Por outro lado, a outra corrente do existencialismo parece mais afinada com Aristóteles, pois afirma que você primeiro existe, e que antes você é um nada, depois se faz, se constrói ou fixa sua essência como quiser, então no primeiro caso, a essência de acordo com Platão está na alma e precede a existência, pois você já nasce herói, ou um bandido. Contudo, seguindo Aristóteles, a essência está nas coisas, diz a corrente (e não Aristóteles) que você pode se fazer e depende apenas de ti, você é um ser plural porque tem que observar os fatos as coisas e sua essência pessoal se faz ou se constrói e em ti se fixa, você pode nascer e se tornar bandido, mas pode ainda se transformar de bandido a herói.
Na religião há pensamentos seguindo Platão e também Aristóteles, como exemplo, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. Vejamos.
Santo Agostinho adota uma postura ligada a Platão ou neoplatonismo, apesar de suas angústias e preocupação com respostas científicas para a fé: “Agostinho introverteu conceitos de Platão, principalmente quando este define o homem como uma alma que se serve de um corpo, admitindo a idéia de transcendência hierárquica da alma sobre o corpo.” Ele visualiza as sensações: “O erro provém dos juízos que se fazem sobre as sensações e não delas próprias.” (Solilóquios, pág 18).
- São Tomás de Aquino pode ser localizado na doutrina, entre a razão e a fé, procurou conciliar a teologia Cristã com a filosofia, em especial a Aristotélica, num plano mais racional (intelectualismo), ou seja, a conciliação corpo e alma, ao contrário de Platão que afirmava a dicotomia corpo e alma, enquanto Aristóteles dizia que corpo e alma formam juntas as identidades do ser. Seu principal argumento tinha como ideia o movimento primeiro, ou seja, o fato de o mundo estar em movimento foi Deus que causou o primeiro movimento.
Nas artes ou estética, eles divergiam, pois Platão via nas artes a degeneração o afastamento que corrompe a verdade e deseduca, já que é uma imitação, pois o artista não tem conhecimento sobre aquilo que imita, uma vez que a pintura/pintor ao imitar um sapateiro, sem conhecer o ofício de confeccionar o sapato, se afasta dessa virtude ou verdade. O belo para ele está no mundo das idéias e não no mundo concreto, a arte copia a natureza e a verdadeira natureza está no mundo das ideias e a imitada já é uma cópia, não podendo haver um julgamento humano sobre o tema. Criticava o teatro de Homero. Vide meu artigo a verdade: http://utquid.blogspot.com.br/2016/07/a-verdade.html
Para Aristóteles, “a Música é uma disciplina moral e um deleite racional,... o nobre emprego do lazer é o objetivo mais elevado a que um homem pode aspirar;” (Aristóteles, A Política, Livro VIII). Então, segundo ele, a beleza de uma obra, está na proporção, a simetria, a ordem, a justa medida.
Na Política, Aristóteles estabeleceu alguns conselhos, dizendo: “Nas cidades em que há rendas não se deve permitir aos demagogos que distribuam os recursos entre o povo. Os pobres estão sempre recebendo e sempre querendo ganhar mais e mais; conceder esse tipo de auxílio equivalente a encher de água um balde furado... Assim, deve-se tomar medidas que promovam uma prosperidade duradoura;”(P - p. 225). Dizia ele que que o homem é um ser eminentemente social.
Obs. Claro que meu posicionamento não encontra literalidade absoluta em Platão e Aristóteles, senão uma construção, sujeita as imperfeições.

Milton Luiz Gazaniga de Oliveira

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