sábado, 19 de março de 2016

Os sentidos podem nos sacrificar e a alma libertar. Somos iguais na parte privada da alma, a nutrição e crescimento. E no Sono também!

Não farei qualquer critica a nossa parte sensível e nem uma elevação da alma (aqui denominada como a parte racional). Mas não me custa incursionar pelo racionalismo Aristotélico, em que aponta a razão (a alma) como o governo das paixões, sem aniquilá-las ou destruir.
Apenas quero dizer que viver por viver é possível e talvez se viva feliz apenas pelos sentidos, especialmente na parte privada da alma, e os animais são a prova disso. A partir daí vejo que a natureza não é partícipe das virtudes, mas podemos ser felizes como partícipes das virtudes colhidas da natureza.
Mas em decorrência dessa opção, pela natureza, devemos procurar apenas “os bens que satisfazem o corpo”, as nossas sensibilidades, já que temos três espécies de bens “aqueles chamados externos, aqueles da alma e aqueles do corpo, dizemos que os da alma são bens mais propriamente que os outros e em sumo grau. E as ações e os atos derivados da alma, atribuímos-los à alma”. (Aristóteles, A ética. p.39).
Todavia, notamos que na parte privada da alma, aquela que não partilha com a razão, somos iguais aos vegetais e todos os seres vivos, mesmo os embriões e todos os seres perfeitos, pois é a parte responsável pela nutrição e crescimento. Assim, essa faculdade se demonstra comum e não apenas própria do homem. (p. 41).
Vou além, então essa parte não se distingue entre o homem bom e o ruim, principalmente no Sono, pois no Sono somos iguais, os bons e os ruins, e nisso até na felicidade somos iguais durante o sono em que a alma encontra-se em repouso. (Foi Aristóteles quem disse isso, p. 49). Mas penso que as diferenças entre os seres começam com o despertar do sono e da nutrição,  e no homem o da razão.  
Nesse diapasão o Leão e o carneiro no sono são iguais.
De uma maneira geral, os atos realizados pelo comando da alma são mais virtuosos e nos libertam. Os do corpo em regra nos satisfazem e também fazemos deles uma necessidade.
Farei pequena distinção entre Ética e Dianoética.
Contudo, na maioria das vezes o bem pelos quais buscamos a felicidade faz com que utilizamos a razão, mas notamos que nossa parte racional se divide em busca do bem enquanto obediente a razão e me guio segundo a ética, e a outra parte porque possuo razão e a utilizo para pensar, e nesta última parte sou livre, pois a chamo de dianoética.
Quanto faço em obediência a razão, logicamente me ensinaram, em regra pelos livros, e faço a melhor escolha e poderei estar dentro da ética. Todavia, porque possuo razão e penso, eu poderei criar e ser livre, pois vou além dos outros e até dos livros que li e posso me guiar pela dianoética ao transcender a simples e rotineira obediência racional, elaborando novas matrizes do conhecimento e de bem estar pensado por e para mim e até mesmo para os outros.
As três espécies de Bens juntos.
Portanto, quando busco a felicidade apenas nos bens externos ou do corpo, não estou sendo livre e posso ser facilmente sacrificado pela minha sensibilidade e a das coisas. Assim, torna-se difícil saber se apenas os bens externos são capazes de me trazer a felicidade. No entanto se alcançar a junção das três espécies de bens que acima citei (os bens externos, os do corpo e da razão), eu poderei ter ou se quiser ser feliz ou pelo menos estar com liberdade.
Segundo Aristóteles, p. 38 ... “O viver, não, que é comum também às plantas e nós procuramos aquela próprio do homem. Ponha-se assim de parte a vida de crescimento e de nutrição. Seguir-se-á uma vida sensitiva, mas também ela é comum ao boi e ao cavalo e a todo o animal. Resta, então, a existência de uma vida ativa daquela parte racional. Mas, desta, uma parte é racional enquanto obediente a razão, e a outra porque possui e pensa.
Concluo que doravante dividirei minha cabeça racional enquanto obediente a razão ainda que ditada ou reproduzida pelos outros, que Aristóteles chamaria da parte ética; a outra parte é exclusivamente minha, pois possuo razão e penso, e nisto o referido Estagirita denominaria de dianoética.
Finalmente, descobri que em média 8 horas por dia somos todos iguais (no sono), assim como na parte privada da razão, no crescimento e nutrição. Todavia, somos diferentes na Dianoética, ou seja, na sabedoria, sapiência, ciência e na arte.

Milton Luiz Gazaniga de Oliveira

Um comentário:

  1. Muitas matrizes política ideológicas totalitárias querem produzir a igualdade, quase sempre pelos sentidos e consequente submissão.
    Sem uma educação de qualidade ou de excelência formadora da razão, inexoravelmente atingiremos uma péssima igualdade, apenas aquela dos sentidos, e daí fica fácil produzir a igualdade pela submissão política-ideológica-totalitária!
    Mas é natural que já somos iguais, pelo menos em parte, pois: “Finalmente, descobri que em média 8 horas por dia somos todos iguais (no sono), assim como na parte privada da razão, no crescimento e nutrição.” Mas um governo, povo, sociedade ou família que apenas cuida do crescimento e nutrição dos seus, pode os submeter a igualdade, mas sem liberdade.
    “No entanto se alcançar a junção das três espécies de bens que acima citei (os bens externos, os do corpo e da razão), eu poderei ter ou se quiser ser feliz ou pelo menos estar com liberdade.”

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