terça-feira, 1 de março de 2016

“Sei que sei, mas não sei do que sei”

Ocorre que me cansei de escutar o antigo pensamento, o qual rotulo como do determinismo por natureza, de quem dizia: “Óh, como fulano é inteligente! Eu não..., não tenho boa cabeça..., não nasci assim...” Em face disso, afirmo que “todos” possuímos a capacidade de entender e compreender as coisas. Portanto, sintetizo meu modo de pensar e agir nesta frase: “sei que sei, mas não sei do que sei”, trata-se da minha “mínima”, do autoconhecimento para, após esse começo, seguir ao além de mim. Opino que esse conselho de autoconhecimento sirva para todos. Adiante, explico a razão.
Para conhecer a si mesmo, devo me espelhar na filosofia de Sócrates, no seu método dialético e sua maiêutica, o conhecido aforismo, “Conhece-te a ti mesmo”. Somente após isso posso estabelecer um start para mim mesmo. Sócrates com estas palavras “só sei que nada sei” reagiu ao pronunciamento do oráculo de Delfos, que o apontara como o mais sábio de todos os homens. Ao contrário da máxima de Sócrates, fixei minha mínima. Assim, estabeleci meus limites quando disse: Se te apresentarem o composto desconhecido, enquanto síntese, procure efetuar uma análise, decompondo-o. Aristóteles assim professou: “Na política, assim como em qualquer outro ramo da ciência, para conhecer as coisas compostas temos de decompô-las (syntheton) até chegarmos aos seus elementos mais simples.” (Aristóteles. Política. Editora Martin Claret, SP. 2008, 5ª ed., pag. 54.) Disso fixei um pequeno conceito que me permite avaliar sobre meu conhecimento, ou seja, “sei que sei, mas não sei do que sei”. Significa dizer que sei do simples, este enquanto tiver origem ou início na minha sensibilidade ou até mesmo na estética, pois meu pensamento tem início pelos dados sensíveis, tal como a formação do pensamento cujo caminho natural do conhecer vai: do sentido ao entendimento até a razão, esta enquanto abstração mais elevada, possuindo uma faculdade lógica e outra transcendental. Assim, "não sei do que sei do complexo", se transforma em possibilidade do conhecer, pois poderei até investigar a partir do simples ou da decomposição do composto ou complexo. Na verdade o composto e o complexo estão um pouco além da sensibilidade ou sentidos, ou seja, na etapa do entendimento e razão, residindo ali o “não sei do que sei”. Todavia, não na impossibilidade de conhecê-lo. Pois, segundo Schopenhauer, A arte de escrever, pág.,19, “... A cada trinta anos, desponta no mundo uma nova geração, pessoas que não sabem nada e agora devoram os resultados do saber humano acumulado durante milênios, de modo sumário e apressado, depois querem ser mais espertas do que todo o passado.” Contudo, isso me permite iniciar o enfrentamento das situações com que me deparo, sem que esteja obrigado a eliminá-las sumariamente, e duvidando até das evidências, ainda que tenha de me apegar no conhecimento alheio, pois "posso usar a peruca do saber". Schopenhauer, A arte de escrever, pag 22 “A peruca é o símbolo mais apropriado para o erudito puro. Trata-se de homens que adornam a cabeça com uma rica massa de cabelos alheio porque carecem de cabelos próprios.” De uma forma ou outra, seja pelo conhecimento próprio ou adornando a cabeça com o conhecimento alheio, posso ir sempre além, conhecendo até o complexo.


Milton Luiz Gazaniga de Oliveira

2 comentários:

  1. Todo o conhecimento e saber está no universal, mas a ignorância encontra-se apenas no particular. Essa é uma das leituras e síntese deste texto.

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