quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Embates Políticos - Sociedade Igualitária.

Nos tempos primitivos éramos iguais na nudez e na ignorância. No primeiro caso (nudez), se trata das igualdades naturais da pessoa nos seus direitos mais elementares, roupa, alimentos, instrumento de caça e pesca...; No segundo (a luta contra a ignorância), trata-se da igualdade qualificativa, ou seja, a especialidade ou a aptidão de cada um para exercer a profissão. Hoje já sabemos da igualdade formal e material, que resulta na ausência de diferenças de direitos e deveres entre os membros de uma sociedade, que para muitos ainda não basta. Na concepção clássica foi concebida e cunhada a ideia de sociedade igualitária, iniciando-se no Iluminismo para idealizar uma realidade em que não houvesse distinção jurídica entre nobreza, burguesia, clero e escravos. Mais recentemente o conceito foi ampliado, muitas vezes sem que o Estado Democrático de Direito possa suportar quando os direitos vierem resultar em gastos ou despesas públicas, pois passou também incluir no discurso da igualdade, a diversidade (dos ditos excluídos como as minorias, questões do gênero, etc). Contudo, trata-se de uma construção muitas vezes ainda não autorizada pelo direito positivo, devendo o legislador resolver os dilemas.
Então, percebo que os debates políticos, sejam de inclusão e de outros temas, ocorrem ante uma “mimetização do povo” - escolhendo o meio para o qual o povo deva se configurar, apostando na irrelevância dele fora do eixo teórico. Muitos debatedores (donos dos signos já ideologizados) procuram encaixar visões. Como exemplo, até as idéias marxistas renascem e criam ou repetem um discurso anti-elitismo, dentro da própria corrente. Combatem o Elitismo opondo que o sistema encontra-se embasado no favorecimento de minorias elitizadas, aquela em que se diz constituída por membros da aristocracia ou de uma oligarquia, que se estabeleceu a partir da Educação e bons costumes nascida de um sistema tradicional, ou seja, ante um complexo educacional e cultural tradicional, nos moldes conceituais de Platão e Aristóteles. Mas no fundo combatem apenas a prosperidade de alguns, e a substituem pela deles mesmos, espoliando todos.
No entanto, esses críticos também estão com um dos pés nos pensamentos tradicionais, os reescrevendo, aduzindo serem donos do conhecimento a priori e útil à experiência (os acontecimentos), artificializando e aperfeiçoando o antigo, elaborando sínteses ou análises dando apenas uma estética, pois o discurso é belo e contemplativo, tendo a função de atrair. Exteriorizam como se uma nova tendência de harmonia daí surgisse. É claro, apostando na menoridade do povo, pois, quase sempre desigual e sem educação formal. De uma questão simples (a democracia – poder do povo), criam-se conceitos, hipóteses, mitos “para acorrentá-los nas correntes com novos elos”. Bobagem, na verdade existem rupturas das idéias tradicionais, sim: Mas de um povo que cansou de ser explorado por todos os detentores supremos dessas correntes e discursos vazios; De um povo que não quer mais seguir heróis do solipsismo (os demagogos, caudilhos e corruptos...), pois já sabem que somente existe “autoridade em nome do povo – enquanto democracia”. Na verdade o povo descobriu nessas correntes pelo menos uma coisa de útil: “onde não se tem nada para procurar..., ele não encontra nada”. O povo quer ser vencedor, e que seja o “estabelecimento de laços” de sua própria imagem e semelhança, mas que vença sempre a melhor idéia selecionada pelo povo. O resto é mera retórica, seja econômica, sociológica, política ou geopolítica.
Por outro lado, não nego que o aprofundamento teórico desses pensadores/debatedores serve, sim, de base esclarecedora, “um novo iluminismo” e as bases para se alcançar um bem estar numa sociedade menos desigual e solidária, ainda que para servir de enfeites de estantes de livros.


Milton Luiz Gazaniga de Oliveira

Um comentário:

  1. A questão da igualdade, a evolução e ao mesmo tempo a deturpação ideológicas deste princípio através de doutrinadores apostando sempre na ignorância do povo que no fundo combatem apenas a prosperidade de alguns, e a substituem pela deles mesmos, espoliando todos.

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