Então
a Liberdade começa quando temos a potência e podemos realizar o ato. Essa
capacidade ou energia se eu já detenho, trata-se de minha emancipação, ou seja,
estou dentro do possível, ainda que na realidade não queira exercitar, pois já
possuo o necessário.
Mas
aqui poderia, cansativamente, falar enquanto capacidade/potência/energia,
adquirida pela formação do pensamento que vai da sensibilidade, entendimento e
razão, mas já escrevi anteriormente. Portanto, me limito em dizer que a boa
formação do pensamento eleva a potência deixando “o possível” com maior
amplitude de capacidade para realizar o ato.
Alerto
ainda sobre contingências, pois a humanidade segue caminhos em que os conflitos
e conciliações são inevitáveis, uma vez que minha existência depende da
existência do outro e que estamos inseridos na natureza (o eu, o outro e a
natureza – Giles p.2). Assim minhas ações ligadas a potencia não dependem
apenas de mim mesmo, mas dos outros e essencialmente da boa formação da minha consciência.
Sabemos
que os movimentos e conseqüentes mudanças são inevitáveis, sempre em busca das
essências. Então a liberdade pode ser observada sob o plano individual ou
coletivo, mas aqui interessa como o indivíduo conquista ou detém essa
liberdade.
Mas
o que é a potência?!
Aristóteles
fala da passagem da Potência ao Ato e afirmou que deveria haver um primeiro
motor. O ato é realização de uma Potência. O ser humano tem a Potência para
gerar outro Ser. Tudo se move de uma para outra condição (Deus como causa
final, movimento por atração), ... Uma espada é uma das potências do ferro
colocada em ato. Segundo Aristóteles, da
Potencia ao Ato envolve quatro causas: Causa Material, Causa Eficiente, Causa
Formal e Causa Final.
A Causa Eficiente é a que promove a passagem
do objeto inicial (ex. o curso de direito enquanto potencia) ao Ato (exercer a
profissão). O exame da OAB pode ser a Causa Eficiente. Contudo, a Causa Formal,
é a forma que define a coisa (o profissional) que lhe dá identidade. O concurso
público, nomeação e posse dão a forma ao Procurador, ao Juiz, ao Auditor, ao
Professor. A Causa Final é o propósito, o objetivo, a finalidade do Ser específico.
A defesa de uma causa judicial ou da coisa pública é a Causa Final do advogado
ou do Procurador de Estado. Portanto, no caminho entre Potencia ao Ato o
Procurador se difere do Advogado privado quanto ao Ato. Certamente a espada do
Procurador, do advogado e do Juiz é feita com a mesma Potência Ferro. No
entanto, quando a espada é colocada em Ato realizado diferem quanto ao
movimento, tanto na mudança quanto na estabilidade. Se os profissionais do
direito fossem considerados apenas como diplomados, estaríamos presos no
conceito da estabilidade das coisas ou da permanência. Outro exemplo, enquanto
humano, eu tenho a impressão de fundamentalmente ser a mesma pessoa que nasceu
cinqüenta e seis anos atrás (2015), apesar de todas as modificações e transformações
fisiológicas e psicológicas pelas quais passei. Isso tem fundamento?! Ou seria
apenas uma causa material, derivado de uma causa eficiente em nascer de um pai
e mãe, nada mais? Ou se trata de uma ilusão do intelecto e matéria?
Por
outro lado, posso pensar que só existe o movimento e a realidade é um processo
e que não há nada de estável no universo!
Mas
o que isso tudo quer dizer?!
Vejamos.
Na Política as instituições/agremiações procuram deter a vontade total
consciente enquanto Potência coletiva ou mesmo individual, se apoderando do
modo da totalização dos atos, avocando a consciência do todo para o indivíduo “ter-de-ser”.
Contudo, formam uma massa de tutelados, colocando em movimento da potência ao
ato determinadas condições que entendem ser a liberdade, formatando o sujeito
ao seu modo.
Vejamos
na história que a burguesia se impôs como classe emancipadora em relação aos
privilégios de que a nobreza se concedia hereditariamente. Contudo, não acabou
com os privilégios. Então, a perversa lógica dual vem se repetindo, o
emancipado recebe a liberdade e é capaz de usar uma liberdade concedida e não a
do Ser de uma consciência que tem de ser, uma vez que antes era transformado
num sujeito vassalo, como súdito do rei, e agora do emancipador. (por exemplo,
a classe pobre deve votar sempre no partido libertador, ainda que agora não
seja mais pobre!). Ou seja, a lógica é de que o emancipador conserve seus
privilégios de deter o “ter-de-ser”. Assim, o emancipador pode doar a liberdade
a tal sujeito, como se fosse uma medalha ao colaborador dedicado, portanto,
sempre ocultando a subjetividade do emancipado. Disse Aristóteles: “Nas cidades
em que há rendas não se deve permitir aos demagogos que distribuam os recursos
entre o povo. Os pobres estão sempre recebendo e sempre querendo ganhar mais e
mais; conceder esse tipo de auxílio equivalente a encher de água um balde
furado... Assim, deve-se tomar medidas que promovam uma prosperidade
duradoura;”(P - p. 225).
Então,
a liberdade entre potencia e ato é um caminho que pode ocultar armadilhas. Isto
porque o Ser é tomado como ato e/ou potência. Eu posso existir em potência, em
ato e potência, ou somente em ato. Então poucos me conhecem, sou imprevisto e
minha liberdade também?! E os políticos doutrinadores querem me emancipar,
porém ao seu modo!? Prefiro que as instituições estabeleçam condições de
capacitar minha consciência (dando a potência a ela para que eu possa realizar
bons atos), rumo a autonomia e solidariedade! Jamais aceitarei o “Ter-de-Ser”
como liberdade doada pelo emancipador
doutrinador, enquanto alforria!
Milton
Luiz Gazaniga de Oliveira
Procurei extrair o conceito de potencia e ato. O tema é objeto de divisões filosóficas e das mais celebres produções de pensamentos.
ResponderExcluirA Liberdade começa quando temos a potência e podemos realizar o ato. Essa capacidade ou energia se eu já detenho, trata-se de minha emancipação, ou seja, estou dentro do possível, ainda que na realidade não queira exercitar, pois já possuo o necessário.
Potencia e ato estudado por Aristóteles, envolve quatro causas: Causa Material, Causa Eficiente, Causa Formal e Causa Final. Desse modo, a reflexão produzida foca na capacidade ou potencial que as pessoas educadas conquistam capaz de emancipar sem ter que seguir determinados padrões ideológicos. Ocorre que algumas agremiações apoderam-se da vontade total consciente enquanto Potência coletiva ou mesmo individual, estabelecendo um modo doutrinário detendo a forma e matéria dos fatos e atos, avocando a consciência do “todo” para o indivíduo “ter-de-ser”