sábado, 6 de fevereiro de 2016

Sobre Opinião e Idéia. O Mito da Caverna.

A opinião muitas vezes se transforma em “doxa”. Mas é um dos modos pelo qual cada um exprime suas preferências, gostos, interesses, sentimentos. Em certas ocasiões ingenuamente me incluo neste tipo: por exemplo, a democracia tagarela, muito utilizada pelos sofistas, condenada desde então por Platão.  A opinião muda muito, variando de pessoa para pessoa, ora afirmando ora negando a mesma coisa, se inclinando em retórica. Torna-se perigosa quando damos por vencedor quem melhor souber persuadir e conquistar a opinião alheia, pois poderá não ser a “melhor idéia”. Por isso difere da epistemologia que cuida do grau de certeza do conhecimento humano. Mas por isso que o mundo das idéias se constitui na melhor opção, pois sobre elas surgem os debates, já que não são simples cogitações presentes na mente, mas realidades que existem por si mesmas, independente do pensamento e de todas as coisas materiais. Como na alegoria da caverna que está além do mundo sensível. Através de uma abertura a luz passa por um orifício vindo de fora da caverna, mas imperceptível diretamente aos olhos do observador que se encontra amarrado de costas ao mundo sensível, mas vendo apenas a luz refletir nas paredes interna da caverna, as vezes observando os movimento das sombras, ocorre que a luz ao incidir sobre as pessoas e coisas animados e inanimados no lado externo, reflete/produz a sombra deles e também seus movimentos refletidos no interior da caverna, fazendo com que esses objetos ou seres materiais (do mundo sensível) se transformem em meras aparências/sombras.  Assim sendo, permite que a verdadeira realidade dos habitantes da caverna de costa para o mundo sensível, seja pensada a partir desse modelo de sombras, “sendo para eles a própria realidade, então fornecida pelo mundo das idéias que fazem”. Então para os que estão na caverna corresponderia o lado exterior da caverna, formando arquétipos e a realidade por eles concebidas como verdadeiras, e fixada no mundo das idéias, estando além do mundo sensível.
- Ao me aposentar certamente estarei fora do mundo das idéias (fora da caverna dos processos), no lado externo da caverna (no mundo sensível). Todavia, quando voltar para a caverna visitar os Colegas que ainda estão lá, e ao revelar a eles, antigos companheiros, a situação extremamente enganosa em que se encontram e correrei, segundo Platão, sérios riscos, desde o simples em ser ignorado até, caso consigam, ser agarrado e morto por eles, que me tomarão por louco e inventor de mentiras. (Kkkk...)
Então, para não correr esse risco, o melhor desses dois mundos é o das idéias. Viver no plano das idéias, pois sem riscos  ao corpo do Ser sensível. Na verdade, no mundo das idéias, permito pensar que ao mundo material só temos acesso por meio da razão e que sempre no plano da realidade estão às idéias, muito além do mundo sensível.
- Na minha “opinião” a diferença entre o Velho e o Gênio está em que o Velho sempre relembra o passado e o mal dos gênios está em esquecerem facilmente o passado, ou melhor, temos que relembrá-los, uma vez que vivem no mundo transcendental/metafísico! Bem, essa é minha opinião! Então consegui distinguir o mundo das idéias e das opiniões, cujos argumentos foram aceitos tacitamente pelo pássaro que pousou na árvore em frente, me ouvindo!

Milton Luiz Gazaniga de Oliveira

“Tudo é Valor e Não Valor”

O Direito é uma ciência que possui seu pilar enquanto modelo normativo fixado nos valores contidos na sociedade. Assim, interessa-me muito a axiologia mais conhecida como a ciência dos valores ou exame crítico dos valores. Mas tenho interesse não pelo estudo dos valores, todavia pela crescente perda deles. Porém, são perdas sem que ocorram substituições ou reparação teóricas que possam justificar outros valores. Como exemplo, podemos dizer que o dinheiro é um valor que reflete ou mede a economia. Posso afirmar que ainda existem grupos de indivíduos que não cultuam valores (desprezam o trabalho, o dinheiro, a religião, a família, bem como desqualificam os bens apropriados por alguém seja pelo fruto do trabalho e/ou capacidade de prosperar...), dizem que tudo é contradição e tudo está para ser definido (um porvir), num processo dialético sem fim, ou seja, a síntese da síntese! Contudo, isso faz surgir o abuso de juízos de valores quando determinados representantes de grupos ou classes ditam dialéticas, mas em nível de retórica, apontando apenas contradições e fetiches. Sim, apresentando discurso ritualizado e indutivo apenas das partes ditas excluídas onde procuram difundir informação impondo questões da credibilidade do conhecimento, sem apresentar reparos. Destarte, fazem inserir uma desconstrução meramente arbitrária, deixando os valores por vezes ao plano amoral. Então, muitos valores se perdem. Por exemplo, o valor ou o respeito ao idoso por eles passa a ser secundário se não tiver matriz ou origem no mercado num processo econômico atual. Ou do outro lado do discurso, no modelo socialista, materialismo ou histórico, dizendo ser resultante supostamente de uma não-alienação da realidade e/ou das exclusões e estigmas em voga. (Ex., justificam que o idoso é um peso aos cofres do Estado, desconstruindo o passado!). Surge então o vácuo valorativo e a subjetividade social  vai sendo dominada por interesses de indivíduos, grupos e/ou agremiações. Todavia não deixam que outra subjetividade, a do indivíduo ou do grupo, surja enquanto momento de passagem indispensável à objetivação.
Disso resulta que o Valor que pode servir aos critérios científicos objetivos para tornar o mundo menos mítico, mais claro e estável, vai se deteriorando.
Vejamos que o contraponto disso tudo é observado de maneira empírica nas sociedades cujos valores éticos, morais e científicos em todos os sistemas (mercado, família, política e demais setores) são mais constantes. Resulta no fato de conseguirem resistir aos reveses e tornam-se mais estáveis, fazendo com que o exercício da subjetividade esteja voltado mais para o interior e ao despertar da inteligência humana, tornando o mundo mais objetivo na administração das coisas.
Em conclusão, o direito perece quando o valor do qual ele derivou se deteriora.
Quando Kelsen idealizou uma ciência jurídica objetiva, evidentemente, o mundo valorativo passou ao campo da psicologia, a sociologia, a ética e a teoria política,..., mas nunca ignorou sua existência, enquanto fonte de o legislador aquilatar os valores sociais e individuais. Obviamente, a norma objetiva se constrói sob o manto valorativo em que o legislador buscou no campo das demais ciências, em especial as anteriormente mencionadas.  Portanto, pretendo afirmar que o direito (normativo) se constitui em valor derivado de determinado fato significativo em que o legislador positivou, o descrevendo na Lei e lhe atribuindo uma medida/relevância ou significado positivo ou negativo nas relações em que participam as pessoas ou a sociedade.
A instabilidade dos valores numa sociedade faz o direito (lei) sucumbir, por mais que a todo o momento se façam leis em decorrência de novos fatos, porém, quando a instabilidade de valores é regra numa sociedade/nação, os problemas se tornam perturbados. Diante disso, ficamos também numa sociedade condicionada, não por valores, mas em que “não se aceitam respostas, mas problemas em forma de síntese”, todavia enquanto nova e desastrosa condicionante. Julgo, porém, que “formular problemas é a maior vantagem da dialética que desmitifica sim determinados valores, mas se torna mera retórica ou até sofisma quando não substitui valores” ao preferir, por exemplo, a amoralidade, largando o povo no deserto, “onde tudo é não valor”. Mas o oceano sobrevive sem a baleia, no entanto a baleia não vive sem o oceano, uma vez que ela é apenas contingente. O valor e não valor sobrevive sem o direito, mas o direito não sobrevive sem os valores por ser contingente deles (vide o efeito sombra do direito). E o(s) homem(s) sem o direito “são o que são”, podendo ser subjugado(s) pelos sistemas, econômico, político, histórico, ideológico...

Milton Luiz Gazaniga de Oliveira

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

A liberdade está entre Potência e Ato. O “Ter-de-Ser” do Emancipador (Alforria).

Então a Liberdade começa quando temos a potência e podemos realizar o ato. Essa capacidade ou energia se eu já detenho, trata-se de minha emancipação, ou seja, estou dentro do possível, ainda que na realidade não queira exercitar, pois já possuo o necessário.
Mas aqui poderia, cansativamente, falar enquanto capacidade/potência/energia, adquirida pela formação do pensamento que vai da sensibilidade, entendimento e razão, mas já escrevi anteriormente. Portanto, me limito em dizer que a boa formação do pensamento eleva a potência deixando “o possível” com maior amplitude de capacidade para realizar o ato.
Alerto ainda sobre contingências, pois a humanidade segue caminhos em que os conflitos e conciliações são inevitáveis, uma vez que minha existência depende da existência do outro e que estamos inseridos na natureza (o eu, o outro e a natureza – Giles p.2). Assim minhas ações ligadas a potencia não dependem apenas de mim mesmo, mas dos outros e essencialmente da boa formação da minha consciência.
Sabemos que os movimentos e conseqüentes mudanças são inevitáveis, sempre em busca das essências. Então a liberdade pode ser observada sob o plano individual ou coletivo, mas aqui interessa como o indivíduo conquista ou detém essa liberdade.
Mas o que é a potência?!
Aristóteles fala da passagem da Potência ao Ato e afirmou que deveria haver um primeiro motor. O ato é realização de uma Potência. O ser humano tem a Potência para gerar outro Ser. Tudo se move de uma para outra condição (Deus como causa final, movimento por atração), ... Uma espada é uma das potências do ferro colocada em ato.  Segundo Aristóteles, da Potencia ao Ato envolve quatro causas: Causa Material, Causa Eficiente, Causa Formal e Causa Final.
 A Causa Eficiente é a que promove a passagem do objeto inicial (ex. o curso de direito enquanto potencia) ao Ato (exercer a profissão). O exame da OAB pode ser a Causa Eficiente. Contudo, a Causa Formal, é a forma que define a coisa (o profissional) que lhe dá identidade. O concurso público, nomeação e posse dão a forma ao Procurador, ao Juiz, ao Auditor, ao Professor. A Causa Final é o propósito, o objetivo, a finalidade do Ser específico. A defesa de uma causa judicial ou da coisa pública é a Causa Final do advogado ou do Procurador de Estado. Portanto, no caminho entre Potencia ao Ato o Procurador se difere do Advogado privado quanto ao Ato. Certamente a espada do Procurador, do advogado e do Juiz é feita com a mesma Potência Ferro. No entanto, quando a espada é colocada em Ato realizado diferem quanto ao movimento, tanto na mudança quanto na estabilidade. Se os profissionais do direito fossem considerados apenas como diplomados, estaríamos presos no conceito da estabilidade das coisas ou da permanência. Outro exemplo, enquanto humano, eu tenho a impressão de fundamentalmente ser a mesma pessoa que nasceu cinqüenta e seis anos atrás (2015), apesar de todas as modificações e transformações fisiológicas e psicológicas pelas quais passei. Isso tem fundamento?! Ou seria apenas uma causa material, derivado de uma causa eficiente em nascer de um pai e mãe, nada mais? Ou se trata de uma ilusão do intelecto e matéria?
Por outro lado, posso pensar que só existe o movimento e a realidade é um processo e que não há nada de estável no universo!
Mas o que isso tudo quer dizer?!
Vejamos. Na Política as instituições/agremiações procuram deter a vontade total consciente enquanto Potência coletiva ou mesmo individual, se apoderando do modo da totalização dos atos, avocando a consciência do todo para o indivíduo “ter-de-ser”. Contudo, formam uma massa de tutelados, colocando em movimento da potência ao ato determinadas condições que entendem ser a liberdade, formatando o sujeito ao seu modo.
Vejamos na história que a burguesia se impôs como classe emancipadora em relação aos privilégios de que a nobreza se concedia hereditariamente. Contudo, não acabou com os privilégios. Então, a perversa lógica dual vem se repetindo, o emancipado recebe a liberdade e é capaz de usar uma liberdade concedida e não a do Ser de uma consciência que tem de ser, uma vez que antes era transformado num sujeito vassalo, como súdito do rei, e agora do emancipador. (por exemplo, a classe pobre deve votar sempre no partido libertador, ainda que agora não seja mais pobre!). Ou seja, a lógica é de que o emancipador conserve seus privilégios de deter o “ter-de-ser”. Assim, o emancipador pode doar a liberdade a tal sujeito, como se fosse uma medalha ao colaborador dedicado, portanto, sempre ocultando a subjetividade do emancipado. Disse Aristóteles: “Nas cidades em que há rendas não se deve permitir aos demagogos que distribuam os recursos entre o povo. Os pobres estão sempre recebendo e sempre querendo ganhar mais e mais; conceder esse tipo de auxílio equivalente a encher de água um balde furado... Assim, deve-se tomar medidas que promovam uma prosperidade duradoura;”(P - p. 225).
Então, a liberdade entre potencia e ato é um caminho que pode ocultar armadilhas. Isto porque o Ser é tomado como ato e/ou potência. Eu posso existir em potência, em ato e potência, ou somente em ato. Então poucos me conhecem, sou imprevisto e minha liberdade também?! E os políticos doutrinadores querem me emancipar, porém ao seu modo!? Prefiro que as instituições estabeleçam condições de capacitar minha consciência (dando a potência a ela para que eu possa realizar bons atos), rumo a autonomia e solidariedade! Jamais aceitarei o “Ter-de-Ser” como liberdade doada pelo  emancipador doutrinador, enquanto alforria!

Milton Luiz Gazaniga de Oliveira

O Estado Teocrático e o Laico

- Estado Teocrático

Na religião o amor é a única conexão possível entre a pessoa, composta de matéria e alma, e o céu, este enquanto a última morada, segundo os mandamentos celestiais. Todavia, esse amor se firma no elemento simples! Falo do elemento simples enquanto imaterial e invisível às ciências naturais que também estrutura a alma. 
Assim, como acima me referi no texto anterior, o amor é único em cada forma e é impossível do oleiro em sua arte reproduzir sempre idêntica moldura, pois ao dividir o primeiro homem, multiplicou as formas.
Em sendo o amor uma unidade, encontrando cada um o seu próprio amor, não podemos provar qualquer utilidade ao Estado, salvo contra o corrupto e o tirano, como disse antes.
Portanto, para explicar o amor enquanto simples devemos considerar o dualismo Céu e Terra.
No início, havia substâncias simples. Bem, não vou repetir aquilo que já havia dito quando falei sobre “A Alma, a composição, o absoluto”. O espírito ou a alma, como queiram chamar, foram constituídos por elementos simples e não havia a necessidade de composição. E assim permanece no céu o amor simples como nossa busca por todo o tempo vindouro como inevitável casa eterna (tal como os políticos pensam em relação permanência nos cargos da estrutura política do Estado!). Lá no Céu, a única conexão possível será o amor, pois também foi formado pelo mesmo elemento simples da alma. 
E então o dualismo céu e terra passaram a ser diferenciados pelo elemento simples naquele e composto neste, pois na modalidade celestial a alma e o amor decorrem da forma simples e incorruptível, pois, livre da matéria. Já na terra a alma, o amor e a matéria formam a composição dos humanos, colocando a vida no mundo que vai do simples ao complexo. Fruto ou herança da expulsão do então estado de perfeita felicidade, o paraíso. (expulsão que se diz nem boa nem má, mas estabelecida).
Respondam-me os teólogos, será possível na terra estabelecer o simples amor como unidade ou entidade de governança?! 
Eu respondo que não, uma vez que, tal como a alma da qual o corpo também se compõe este enquanto substância, o amor na terra permanece no humano, até os últimos dias. 
Já o verdadeiro amor, decorre da forma simples e terá o merecimento celestial, ou seja, nada mais é do que um substrato do simples.
Ora, o substrato não é a coisa em si (a alma) senão apenas um componente das condições para formar o merecimento da alma. (é pelo bom substrato que produzimos que o merecimento da alma será julgado).
Portanto, não terá o amor divino a condição e interesse de governar as coisas terrenas senão o merecimento da alma, posto ser considerado como simples, puro e livre da matéria na sua mais bela missão de transpor o absoluto – levando a alma ao céu. Já as demais formas de amor estão no plano extra celestial, ou seja, aqui na terra. E toda vez que a religião optar em governar, irá governar equivocadamente na forma simples, como manda os escritos sagrados, sem considerar a forma composta do corpo e alma. Contudo, após a grande separação divina das duas instâncias, a celestial e terrena, pela expulsão do paraíso antes dito, os procedimentos não se conectam diretamente, pois um ocorre na forma substancial, e outro, a divina, apenas pelo amor na forma simples.
Na unidade celestial, eu diria então existir apenas o incondicionado ou absoluto e somente a alma pode transpor nessa possível conexão. Já a governança na terra implica numa conexão material do condicionado e até mesmo do incondicionado (este como   conhecimento e inovações terrenas da ciência e artes no mundo substancial e o ideal), havendo assim o simples, o composto e o complexo material corruptível.

Assim sendo, governar a terra com as coisas celestiais estabelecendo coisas simples, pretendendo administrar o composto em especial na democracia, na sua diversidade, com pluralidade e complexidade de fins não será prudente.
Seria este um Estado de puro amor, sendo teocrático! Portanto, penso ser desaconselhável.
Mas, como deduzi sobre o nepotismo, governar apenas com a outra forma de amor, a de injunções, amante e amado, ou seja, um amor composto apenas por duas partes, a governança que seria praticada certamente tomaria a modalidade do nepotismo. Também ocorreria no Estado teocrático, governar a coisa complexa, com o simples amor, igualmente não seria prudente.

Por fim, creio que o amor na forma simples ministrado pela religião na sua teologia, ou no de injunções do nepotismo, não satisfaz à boa governança.
 
- Estado Laico
Melhor o Estado Laico! Imparcial, não apoiando nem se opondo a nenhuma religião. Este em que o amor não interfere na sua estrutura, em qualquer das suas formas. Sim, onde se prefere um Estado Político Democrático e de estrutura Técnica.
Justifico ainda no fato de que a democracia como melhor forma de governar e de fazer política no Estado, julgo que não pode ser exercitada pela religião. Vejamos, pois disse num texto anterior que a democracia no céu não existe: “Não precisamos da democracia, igualdade e liberdade na abundância das coisas, mas na medida e escassez. Nem no paraíso (céu), pois lá as “coisas” são desnecessárias.” Portanto, a religião nos seus rituais segue os mandamentos simples e sagrados, sendo desnecessárias as diferenças e as coisas que são exercitados apenas no plano substancial e democrático, senão cabe a ela administrar os substratos do amor para julgar o merecimento da alma.

Todavia, Observo que a religião prestará inegável serviço ao povo e instituições na expulsão dos corruptos, tiranos (ditadores), pois conseguirá a unidade em torno do simples amor, mas sem a missão imprópria a de posterior exercitar o composto numa intensa conexão material como ocorre na missão de governo.
Ora, o exemplo do grande erro está demonstrado na fase do obscurantismo da idade média onde a religião e estado se confundia, e deu no que deu...
(Mas ..., a intuição é de ordem prática! ) 


Milton Luiz Gazaniga de Oliveira

O Estado Nepotista - As Formas do Amor.

O amor, o sexo do casamento, a procriação (hereditariedade ao trono), o belo, disso seria possível extrair uma constituição política insuperável?!

Na história da humanidade sempre se procurou a conquista pelas guerras e conseqüente dominação. Muitas vezes os reis, príncipes, tiranos..., substituindo batalhas, procuravam conquistar pelos laços matrimoniais hereditariedade, para estender ou assegurar seu reinado ou principado. Assim, conquistar pelo sexo, pelo Belo, casamentos e filhos entre diversos povos, eram formas de ter o poder, garantindo o trono e ou estender o seu território, através dos laços de família.

Mas agora falo também de outras formas de Amor, também o das paixões. Morrer um pelo outro. 
- Estado Nepotista
Havia dito (os filósofos) que se fosse possível formar um estado ou um exército composto exclusivamente de amantes e amados (falo da diversidade de gênero no mundo de Platão), assim se obteria uma constituição política insuperável, pois ninguém faria o que fosse desonesto, e naturalmente haveria o estímulo pelas belas coisas. E a vitória sobre os inimigos, seja a corrupção, o crime..., seria inevitável, pois um(a) amante jamais deixaria o seu amado(a) lutar sozinho(a), já que preferiria a morte. (Apologia de Sócrates – Banquete pág. 104).
Uma utopia, pois poderia existir mais de um amor, mais de uma Afrodite e Eros. Assim como um amor do corpo pela sedução e não da alma. Bem, se o amor tiver uma definição simples, certamente ele terá utilidade, porém não na democracia em que é composta de diferenças. Talvez o amor sirva numa comunidade altamente coesa para expulsar corruptos e tiranos. Mas após isso se transformaria num nepotismo, o amado(a) prestando favores ao amante, o qual é um Estado de puro amor, mas um amor de injunções apenas das duas metades (como adiante falarei) e que julgo incompatível com a democracia e a coisa pública!!

- As Várias formas de Amor

Mas o amor tem várias formas, apesar de ter origem do mesmo elemento simples, porém, ele toma determinadas molduras, tal como o barro para o oleiro o qual poderá com o mesmo produto dar as mais diversas identidades: a panela, o vazo, o balde... Assim a maneira de amar se altera e isso também torna singular cada amor.

Vejamos a origem disso tudo.

Bem, já foi comentado sobre a fase inicial da existência da matéria, onde relatei a sopa primordial, que na verdade originou o Paraíso, onde tudo era abundante, um banquete!...
Ocorre que o criador, tal como o oleiro, diante das substâncias abundantes idealizou arquétipos e os substancializou em humano. E com razão parcial “A madame Bourignon, mulher muito piedosa, tinha certeza que Adão era hermafrodita, como os primeiros homens do divino Platão.” (hermafrodita – Hermes mercúrio; Afrodita – Vênus).Tem coisas que pertencem ao conhecimento científico puro e outras às ciência práticas- política, religião...! Mas ainda que Voltaire não tivesse querido tomar partido dessa afirmação duvidosa, eu a utilizo!
Ocorre que Adão ao residir no paraíso, ele mesmo se bastava, pois, ainda que no estado intermediário entre a matéria e o espírito, o amor era único (ainda não dividido com a mulher). Antes da mulher, esse era o verdadeiro Antigo Estado Natural do Homem (e não o Homem no Estado Natural romântico de Rousseau ou degenerado de Hobbes...!).
 
Mesmo Platão relata a ocorrência da diversidade no discurso de Aristófanes: “Outrora a nossa natureza era diferente da que é hoje: Havia três sexos humanos e não apenas, como hoje, dois: o masculino e o feminino – mas acrescentava-se mais um, que era composto ao mesmo tempo de dois primeiros, e que mais tarde veio a desaparecer, deixando apenas o nome: andrógino. 

Mas o criador criativo fez a mulher (ou ao contrário, primeiro existia a mulher?!) e deu no que deu, o amor tomou nova forma, a humana com novas injunções, e foram expulsos do paraíso.

Ora, de um humano no antigo estado natural completo em si mesmo, com as duas metades unidas, passou a ser dividido com a nova criação da companheira, e o humano não mais encontra em si a plenitude, procurando a outra parte.
Assim, o amor também tomou formas terrenas com seus substratos e acidentes. Contudo, sem jamais perder a existência ou referencia na forma simples e original da criação celestial, enquanto culto ao criador e do verdadeiro Antigo Estado Natural (Adão no paraíso), onde cabe a cada um o seu próprio amor ou perfeita felicidade. Doravante nessa incessante busca em estar no mais completo amor.


Milton Luiz Gazaniga de Oliveira

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

A Minha Existência e Essência. O Existencialismo - Sartre

Para saber se eu existo resolvi partir ao campo experimental, formulando pergunta básica: Você conhece Milton...? O que ele representa...?

Contudo, deveria delimitar a pergunta no tempo e espaço!

Ora, nada melhor do que pesquisar no lugar/comunidade onde nasci e vivi na minha infância até a adolescência, quando me ausentei. Entre esse último momento até os dias atuais já transcorreram mais de trinta ou quarenta anos. Bem, efetuei a tal pergunta aos jovens da comunidade, mas surpreendentemente ninguém soube responder, pois nem sabiam sobre minha existência!

Portanto, a existência é relativa, em muitos lugares e condições eu não existo - sou um nada! 
É..., temos a todo o momento fazer provas da nossa existência..., trata-se de um ato de vontade. "A existência precede a essência". "Devemos valorizar o tempo e espaço onde existimos para fixarmos nossa essência". Apesar de muitas pessoas, mesmo assim, não considerarem a nossa existência! Portanto, somos nós que escolhemos e criamos finalidades para a existência, ou seja, somos livres para determinarmos e escolhermos a essência que desejamos, enquanto liberdade absoluta ou mesmo relativa. Então, será que sou um ser humano entregue a si mesmo, criando sentidos e significados, cujas minhas contingências também dependeriam disso, pois ligadas a mim mesmo. Contudo, discordo de Sartre, pois, segundo ele a idéia de Deus seria absurda, pois se tenho essa liberdade absoluta, eu nem seria fruto de uma criação, então vim do nada e me construí! Todavia, se assim fosse, seríamos seres previsíveis, não para os outros, mas essencialmente causal (imanente) consigo mesmo e teria certeza da minha essência assim que buscasse! Mas de fato isso não ocorre, uma vez que tenho realizações, angústias, ansiedades, desejos... e sou dependente de um absoluto que está fora de mim!!!

Quando escrevo que segundo Sartre a idéia de Deus seria absurdo, não significa que ele exclua a divindade (talvez laico, no sentido da imparcialidade). Ocorre que ele vê o ser muito mais enquanto ato, “você não é outra coisa senão sua vida”, ou seja, a pessoa “não é outra coisa senão uma séria de empreendimento, a soma, a organização, o conjunto das relações que constituem essas empreitadas.” Sua filosofia é da ação. Então somente a realidade conta. Mas daí que surge minha crítica, pois vejo na pessoa a completude da potência ao ato, como me refiro em outros textos. Ou seja, a pessoa é mais que as realizações, pois ela sempre possui uma potencia que poderá ser exercitada ou não (ex. se sou engenheiro químico, posso não exercer esse ofício e ser um comerciante em ato (atuação), pois a engenharia está apenas latente, na minha potência, que poderei um dia exercer). E Deus está tanto na potência como no ato. Deus como o motor do primeiro movimento, como na indução dos fins (Vide no texto a ser publicado: A liberdade está entre Potência e Ato). Claro que ele faz críticas ao determinismo psicológico e orgânico e nisso podemos sim concordar, pois se declarássemos que as pessoas já nasceram assim ou por causa do meio, da sociedade, deixaríamos sossegados e diriam, pois é, somos assim mesmo, e não há nada que se possa fazer. Então justificaríamos seres moles, fracos, cavardes, dominados, ou ruins e maus. Na verdade o existencialismo de Sartre coloca que o ser primeiro existe depois estabelece sua essência. Ele não adota uma posição existencialista de que a essência precede a existência, pois se assim fosse, acreditaríamos num conceito universal do homem, o homem possuidor de uma natureza humana, todos possuíam as mesmas qualidades básicas, portanto, as mesmas essências. Mas segundo Sartre o homem não se define ou não é definível, e o homem nada é além do que ele se faz. Ou seja, ele se modela e se faz. Então, pelo menos Sartre repele a idéia do determinismo, uma vez que ninguém nasce herói, covarde, fraco ou ruim, pois segundo ele diz que o covarde se faz covarde, o herói se faz herói, existindo ainda a possibilidade do covarde se fazer herói, então como disse, ele abomina o determinismo. 

Em 1946, no "Club Maintenant" em Paris, Jean Paul Sartre pronuncia uma conferência, que se tornou um opúsculo com o nome de "O Existencialismo é um Humanismo". Nele, ele explica a frase, desta forma:
"... se Deus não existe, há pelo menos um ser, no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem ou, como diz Heidegger, a realidade humana.
Que significa então que a existência precede a essência?
 Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente é nada. Só depois será, e será tal como a si próprio se fizer."


Milton Luiz Gazaniga de Oliveira

Doutrinas Cristãs. O Juízo.

Curiosidades me leva diferenciar Santo Agostinho de São Tomas de Aquino, mas sem exclusões ou conflitos entre esses dois belos pensamentos.
- Agostinho adota uma postura ligada a Platão ou neoplatonismo, apesar de suas angústias e preocupação com respostas científicas para a fé: “Agostinho introverteu conceitos de Platão, principalmente quando este define o homem como uma alma que se serve de um corpo, admitindo a idéia de transcendência hierárquica da alma sobre o corpo.” Ele valoriza as sensações: “O erro provém dos juízos que se fazem sobre as sensações e não delas próprias.” (Solilóquios, pág 18).
- São Tomas de Aquino pode ser localizado na doutrina, entre a razão e a fé, procurou conciliar a teologia Cristã com a filosofia, em especial a Aristotélica, num plano mais racional (intelectualismo), ou seja, a conciliação corpo e alma, ao contrário de Platão que afirmava a dicotomia corpo e alma, enquanto Aristóteles dizia que corpo e alma formam juntas as identidades do ser. Seu principal argumento tinha como ideia o movimento primeiro, ou seja, o fato de o mundo estar em movimento foi Deus que causou o primeiro movimento.
Diz ele que Deus pode existir sem o mal, apesar do mal não poder existir sem o bem. Ele alerta: Cuidado com o homem de um só livro. (mas eu nem tenho livro!!!)
Em resumo também afirma que a virtude não elimina, mas regula as paixões, sendo assim a doutrina do Tomismo, cuja característica é o intelectualismo, com a primazia do intelecto sobre a vontade, com todas as relativas conseqüências. Ensina que o conhecimento é mais perfeito do que a ação, porquanto o intelecto possui o próprio objeto, ao passo que a vontade o persegue sem conquistá-lo. Esta doutrina é aplicada tanto na ordem natural como na ordem sobrenatural, de sorte que a bem-aventurança não consiste no gozo afetivo de Deus, mas na visão beatífica da essência divina. Diz ele que acima do sentido há no homem, um intelecto. Este intelecto atinge, sim, um inteligível, mas é um intelecto concebido como uma faculdade vazia, sem idéias inatas - é uma tabula rasa, segundo a famosa expressão. E o inteligível nada mais é que a forma imanente às coisas materiais. Essa forma é enucleada, abstraída pelo intelecto das coisas materiais sensíveis, vice-versa. Segundo a antropologia aristotélico-tomista, sobre a base metafísica geral da grande doutrina da forma, a alma é concebida como a forma substancial do corpo.
A alma para o Tomismo é, portanto, incompleta sem o corpo, ainda que destinada a sobreviver-lhe pela sua natureza racional; logo, o corpo é um instrumento indispensável ao conhecimento humano, que, por conseqüência, tem o seu ponto de partida nos sentidos.
Mas essas duas doutrinas têm influência na remissão dos pecados?! Por precaução, daqui não vou além, pois ainda que exista uma lógica nesse enfoque! (pois numa doutrina a remissão esta nas obras e na fé e para a outra apenas a fé bastará, até no ato de extrema unção seria suficiente para o perdão!!!)
- Então, prefiro finalizar “Sobre o Exercício do juízo.”
Alertei ao meu cão tagarela que é bom estabelecer o Exercício do juízo que é a faculdade de subsumir-se sob regras, ou seja, se uma coisa entra ou não numa regra estipulada. O caráter distintivo do juízo é o bom senso. Devemos impor certas limitações ao entendimento, buscando nas regras do conhecimento. Ao contrário, não nos preservaremos dos abusos dos outros ou de si mesmo. Por exemplo, aos médicos deixamos em suas mentes as regras patológicas, pois se adotamos de modo leigo, passaremos ao doentio entendimento, faltando capacidade técnica de julgar e exercer esse tipo de juízo em exemplos e casos reais. Compete ao profissional do direito as regras jurídicas. Mas mesmo que o profissional esteja inserido dentro da área de uma ciência, pode ao pensar em ser profundo conhecedor simplesmente falhar ao utilizar essas regras, ainda que possua entendimento. Portanto, nas coisas da fé prefiro de deixar com os teólogos, em defesa do exercício do meu juízo!


Milton Luiz Gazaniga de Oliveira